Reflexão do amor que fica
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Imagem: Mountain Stream. John Singer Sargent. |
Não acredito que exista um dia dos namorados, nem dos solteiros, nem dos deixados. Existe saudade que se transforma em lágrimas; amor que se guarda sob camadas de uma raiva indecente; lembranças que se misturam à fantasia do cotidiano.
Certa vez alguém me disse que o amor não acabava - só mudava. E na mudança ele se feria, se magoava, revirava-se, caía e levantava. Ela disse que o amor não ia embora de jeito nenhum. Ela foi.
Engraçada essa ideia de que a pessoa vai embora e o amor não.
Até hoje não sei se ela tinha razão - aquela raiva indecente encobriu e embotou a razão de nós dois muito tempo depois da partida.
Aliás, ninguém parte de verdade, completamente.
Daí acho estranho quando as pessoas gastam o dinheiro que não têm, viajam horas e esperam tantas outras horas em rodoviárias e aeroportos, com presentes (e sendo o próprio presente), só para mostrar o quanto amam a outra pessoa. É estranho porque na maioria das vezes esses atos e os presentes não passam de materialidade sem sentindo e sem sentimento e cujo objetivo é mostrar para a sociedade, tal como uma debutante, que alguém se importa com você e você tem com o que se importar.
Que vida triste deve ser viver para uma vitrine cuja existência depende ou não de estar acompanhado. A eternidade dos romances - desses amores que se entranham em nossa pele e não nos deixam de jeito nenhum, mesmo depois de tantas outras bocas, cidades e tempos mais tarde - fica quieta, presente, em palavras e na vida. A eternidade dos amores que se inflamam e que se acabam em poucos minutos nada mais é que a nossa própria vida registrada na forma de pessoas que nos deixam sem palavras.
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