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Mostrando postagens com o rótulo James McNeill Whistler

A bêbada do outro prédio

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Quadro: Square House, Amsterdam. James McNeill Whistler. 1889. Às 15h a bêbada do outro prédio liga o aparelho de som e programa-o em três músicas, da Elis Regina e da Alcione (de vez em quando aparece também o Belchior), e começa, então, o suplício dos moradores do cortiço vermelho. As mesmas músicas são repetidas indefinidamente enquanto a bêbada consegue andar ou ter consciência e isso pode durar até dois dias, considerando as noites. A bêbada não tem muita noção de tempo quando se entrega à depravação, à bebida e ao ócio. Tudo o que ela quer é ouvir as mesmas músicas, no último volume, e incomodar os vizinhos avisando-os, por meio de sinais diversos, que ela não está nem aí para as convenções sociais. Não demora muito, a partir do momento em que o som é ligado, e ela começa a ter discussões ferrenhas com o marido (se for realmente marido). Palavrões e xingamentos dos mais vulgares saem pela janela dela e entram nas dezenas de janelas vizinhas. Uma forma muito interessante...

Você não sabe

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Quadro: The Rag Gatherers. James McNeill Whistler. 1858. Agora você não anda mais a pé. Deixou de ser simples. O que diria agora, olhando da sua cama, desses que aí perdem tempo andando sob o sol de Palmeira dos Índios, com calor, com sede e sem expectativas? Agora você não encontra mais ninguém. Passou a odiar todos. Fala demais em polêmica para esconder seus próprios medos atrás dos berros dos outros e da lógica que ninguém usa. E eu pergunto, e as ruas? Agora você não ama mais. E quem serve para apresentar à sua comunidade é enfeite, não amor. E eu pergunto, e quem vai querer você? Dizem que isso é o que você não poderia ser e foi justamente por isso que se tornou - amarga. Agora, os agoras já foram. As luzem uma hora são apagadas e só você e seus demônios sobram para contar quantas lágrimas reteve e quantas vontades foram oprimidas. E eu pergunto, por quê? Agora você é sombra de si mesmo e quase nada pode tirá-la dessa letargia. Deixe que tirem-na disso. Apenas deix...

Aprendendo com fracassos

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Ilustração: Limehouse. James McNeill Whistler. 1859. “Cada fracaso enseña al ser humano algo que necesitaba aprender.” Charles Dickens Se a vida fosse composta apenas por vitórias não teríamos evoluído nada. Não teríamos obras literárias fenomenais, nem a ciência teria descoberto a saída para males físicos que nos cercam e o homem jamais teria pisado em solo lunar. Cada avanço da humanidade é composto por dezenas de fracasso e o segredo da vida nem é saber sobreviver por viver; mas viver para superar o sentimento de derrota que temos ao não atingir determinados pontos. Vencer é fácil. Lidar com a derrota é que é outra história. Há fracasso na vitória, porém é somente nos momentos perdidos que ele se faz mais presente, revelando caminhos alternativos para os erros cometidos e o que devemos fazer é burlar a depressão, passageira ou não, advinda com a derrota e o fracasso e olhar para a frente, com a sabedoria do passado. Somos feitos de fracasso, que às vez...

Pelas folhas de vidro

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Quadro: Note in Pink and  Brown. James McNeill Whistler. 1880. O vizinho do outro, que aparentemente beija rapazes, não quis fazer uma de suas periódicas festinhas. O do andar de baixo não quis ter mais uma sessão de sexo selvagem, como no meio da semana e as fofoqueiras habituais do salão de beleza já foram. O apartamento de frente não está com a TV de 105'' ligada nos programas chatos da Record ou do SBT. As luzes de um novo dia já já começaram a rasgar o dia. Um dia novo com hábitos antigos. O Tédio, senhor de muitas horas, está na sala assistindo ao Corujão, com aquela expressão aborrecida no rosto. Ao seu lado o Ócio cansou de papo furado e deseja pôr-se em movimento. Mas como? Não acha saída.  Olhando-os assim, de frente, sem pretensões, é fácil entender as razões dos homicidas; o sentimentalismo dos velhos; o desespero dos jovens; a vontade de morrer dos vivos e as saudades de quem não possui mais poder para realizar pequenas proezas do dia a dia. E...

Pequenas tragédias

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Ilustração: Soupe à trois sous. James McNeill Whistler. The Collection OnLine Sem querer, comecei o período de greve docente mais cedo e não muito feliz com a ideia de passar mais um tempo ocioso apenas para suprir a necessidade gananciosa de alguns docentes. Comecei esse lapso temporal terminando a leitura de Primeiro Amor , um romance de James Patterson e Emily Raymond. Uma ficção baseada na vida de Patterson. Enquanto lia pensava sobre as inúmeras tragédias que se passa na vida de algumas pessoas e de como as nossas tragédias, embora muitas vezes pequenas e sem a mesma profundidade de algumas que viraram romances, acabam por nos tornar isolados de nossas próprias emoções e aspirações. E quando digo tragédia não me refiro apenas à morte, à uma doença terminal ou a algum tipo extravagante de tragédia. Refiro-me a amores que vão embora depois de jurarem não ir (e que não estão com doença terminal); a pais que não conseguem ver nada além de necessidades básicas por medo de enc...