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Nu

E eu vou dormir nu, como aquele personagem de Fernando Sabino - embora também gostaria de sair por aí, diferente dele, pagando de louco despido. Não vou dormir nu porque vi em alguma rede social que é "saudável" ou "esotérico" e sim porque no encarceramento voluntário das quatro paredes do meu quarto não necessito de roupas que me limitam ao conceito de outrem e nem preciso estar minimamente "apresentável". No meu quarto os meus pelos podem cair sobre a cama, no chão, embolar nas cobertas e eu posso largar-me ao delírio de um mundo sem preocupações, mesmo que sérias. Eu não sou o que minhas roupas dizem. Eu não sou as cores que destoam e se combinam. Eu não sou nada além de pele, ossos, músculos e, de certo modo, flacidez.  Eu sou mole devido ao meu organismo e pedra no intelecto (embora preferisse também na ereção automática e autônoma não apenas nas manhãs). Nu. Vestido de pelos e despido de pudores. Eu sou o que outrem reprova sob a luz dos holofotes da...

O menino no espelho

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As crianças são portadoras de histórias incríveis por habitarem em mundos igualmente incríveis. Em uma hora elas são detetives prestes a destruir as maiores organizações do mundo; noutra está de frente para os dinossauros, correndo na era pré-histórica em busca de alimente e abrigo. Falam e ouvem animais e possuem amores fulminantes. E quando resolvem contar as aventuras que vivenciam não há quem não se surpreenda. O infante Fernando viveu aventuras incríveis em que a diversão, o medo e o segredo fizeram parte do cotidiano. Invadiu uma casa, salvou uma galinha e caiu sobre a mesa do jantar com a amiga Mariana. Viveu sob pseudônimos para investigar histórias e se divertiu muito. Viveu uma infância que hoje já não é possível. Em O menino no espelho o leitor pode deliciar-se com as aventuras incríveis e maravilhosas da criança que outrora fora Fernando Sabino. O autor de Martine Seco e A Nudez da verdade mostra que brasileiro pode escrever mais que palavrão, que pode ser delica...

Parecença escriturária

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Comendo uma fatia do bolo de aniversário de um desconhecido, às 3h47, sob a luz fraca da minha cozinha, eu pensava sobre a dificuldade de expressar, seja em poucas linhas ou difíceis palavras, nosso sentimento ou singelo estado de ânimo para alguém que seja íntima ou que precise de palavras amáveis e afáveis. Em minha última leitura, O gato sou eu , do Fernando Sabino, ele expressava, em um de seus textos, a dificuldade de escrever uma nota de pesar; e ainda justifica revelando que o Gabriel García Márquez sofria de igual problema. Não sei se é apenas uma característica de célebres escritores ou um item intrínseco aos que são capazes de escrever sobre tudo e todos, revelando amor e ódio em linhas de aparências íntimas. E qualquer um é capaz disto, como uma vez enfatizou Neruda. O fato é que em congratulações para aniversário, quando não sei se felicito ou lamento a velhice alheia, ou em velório, quando nada há a dizer, ou ainda em outros momentos quando parece que um sorriso nã...

Amor de Capitu

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A obra de Machado de Assis foi reescrita, sem nenhuma pretensão além de contar a história – como bem enfatizou o reescritor-, e deixou-a ainda mais interessante. A exclusão do narrador tornou a história de Bentinho e Capitu imparcial, deixando ao leitor a possibilidade de tirar suas conclusões sem a emotividade do narrador. Amor de Capitu é a obra que possui a linguagem mais clara e moderna da obra machadiana e que se torna a prova cabal de que apenas poucas pessoas conseguem reeditar uma obra sem modificar seus sentidos mais subjetivos. Fernando Sabino, um escritor fantástico, é o realizador dessa proeza. Embora muita gente, inclusive os que não conhecem a obra de Sabino, busca em Dom Casmurro sentidos de entrelinhas, “olhares” descritos, sem ao menos procurarem na literatura nacional o que outros grandes fizeram sobre a obra. Sabino, em seu Amor de Capitu , deixa o leitor com ares de certezas, uma vez que retira o narrador e suas dramaticidades naturais, e a particular ...