Somente o que vejo importa

É sexta-feira.
Dia de sair às ruas, fabricar uma alegria com prazo de validade e sermos livres de tudo o que nos atormenta, prende e humilha.
Mesmo efêmera, essa alegria multicor que compramos uma vez por ano e vestimos no calor de quase quarenta graus nos salva do desastre de viver. Um viver imposto pelo sistema de produção e alimentado pela ganância política de homens ordinários e gênios irreconhecíveis. Esse mesmo viver que afunda, dia a dia, em um abismo de obrigações que só existem para manter firme a marcha da existência sem sentido.
Alguns já deram o basta no trabalho e começaram a carnavalizar. Outros insistem em ser o exemplo para o patronato e findará a semana como se tudo estivesse na mais perfeita tranquilidade rotineira.
Espere.
Agora ouço os amores sendo cuidadosamente guardados no fundo das gavetas enquanto paixões intempestivas surgem de todos os recantos. São dias de paixões inúmeras e diversas e os amores não têm morada na casa do som e da agonia carnavalesca.
Vejo cordas, fantasias, peles sob o sol. E o que vejo é só o que importa, por enquanto.

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