Energia brasileira


A matriz energética brasileira continua sendo, essencialmente, hidroenergética. O que antes era vantagem tornou-se uma moeda cuja coroa não é tão benéfica quanto se pensava. A ignorância levou-nos a supor que os rios brasileiros supririam a necessidade de produção de energia do país. E teria sido verdade esse pensamento se o Brasil não tivesse crescido, no consumo industrial e residencial.

A indústria, responsável pela fabricação de bens duráveis e de consumo imediato, e as residências, o consumidor implacável de eletricidade, fizeram com que o Governo Federal, nos mais diversos mandatos de Presidentes, construísse usinas hidroelétricas, termoelétricas e eólicas. Pesquisadores de Institutos e Universidades federais investiram nas usinas baratas e de baixo impacto da biomassa. E nada adiantou.

No início dos anos 2000 o Brasil passou por um apagão energético.  O racionamento e a reformulação do pensamento doméstico, aliado a um conjunto de medidas de emergência, fizeram com que o país sobrevivesse à crise.

O tempo passou e voltamos ao velho problema da falta de energia.

E a culpa, de novo, está no consumo doméstico. A Indústria não pode ser culpada por produzir bens de consumo que são o sonho de uma população que pode pagar por tais produtos. E para não deixar as residências solitárias com a fatura da conta de energia elétrica, as mudanças climáticas compartilham desse problema. E nesse segundo caso, a humanidade inteira tem sua parcela de participação, principalmente a partir da Revolução Industrial.

Os brasileiros acreditaram, bem mais nos últimos quinze anos, que poderia consumir sem arcar com as consequências. A partir do segundo mandato de Lula e do primeiro de Dilma Rousseff os pobres que ascenderam à classe média e os miseráveis que saíram da extrema pobreza impulsionaram o consumo. A classe média também passou a consumir mais. As vendas do atacado e varejo aumentaram e as indústrias não pararam, mesmo com a crise que se iniciou em 2008.

Os períodos de seca, nas mesmas épocas, foram se intensificando.

Os Governos negaram a possibilidade de apagões. Compraram energia da Argentina e do Paraguai.

E o que chamam de crise, atualmente, é apenas um reflexo da falta de planejamento do Ministério de Minas e Energia, do Ministério das Cidades, do Ministério da Fazenda e da Casa Civil. É reflexo da incompetência dos ocupantes de cargos politicamente indicados nessas pastas.

O Rio São Francisco, com hidroelétricas em excesso, não suporta mais a demanda de produção de energia. Os sistemas de abastecimentos de água de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são incapazes de suprir a necessidade de água potável das cidades – que embora não sirvam para produzir energia servem para avaliar o problema nas grandes represas.

As hidrelétricas, extremamente dependentes das chuvas, estão cada vez mais se mostrando um sistema falho e muito sensível.

A construção de parques eólicos e de fontes alternativas de energia não tem sido levada a sério pelos Governos. A construção de novas hidrelétricas não prometem resolver o problema da falta de energia e a população, cada vez mais imbecilizada, segue participando de entrevistas sensacionalistas culpando o reajuste nas tarifas de energia elétrica como se o que importasse fosse os centavos acrescentados à conta.

O problema está muito longe disso.

É engraçado como pessoas que, há dez anos, viviam sem um condicionador de ar não podem passar duas horas sem ligar três aparelhos. Estranho pessoas que nos anos 2000 desligavam a lâmpada incandescente ao sair do quarto ou do banheiro acha hoje, quinze anos depois, um absurdo pagar pela eletricidade consumida por horas de lâmpadas acesas.

Querem, cada residente das cidades e  do campo, consumir energia como se fosse a luz do sol e não pagar por esse mesmo consumo idiota e desenfreado.

Por acaso os engenheiros, técnicos e prestadores de serviço trabalham gratuitamente? A construção de usinas de energia acontece como passe de mágica, sem custos? A manutenção do sistema elétrico nacional ocorre ao bel-prazer de alguma entidade divina?

É aconselhável que desliguem suas luzes inúteis, seus condicionadores de ar, troquem suas lâmpadas por outras mais eficientes, utilizem processos alternativos nos serviços domésticos. Substituam eletrodomésticos antigos, economizem água. Informem-se sobre a produção de energia. Cobrem do Governo mais investimentos em usinas de energia alternativa.

E, só a partir disso, pensem em reclamar da conta de energia.



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