O que fica
Imagem: Onde eu estaria feliz. Di Cavalcanti - RJ, 1965 |
Nossa existência é uma verdadeira rodoviária. Há dias em que encontramos dezenas de pessoas, outros em que ninguém aparece. Há dias em que só topamos com boas almas e há aqueles em que só más pessoas dão o ar da graça. E todas, sempre, acabam indo embora, uma hora ou outra.
Devíamos estar acostumados com essas partidas, nem sempre tão súbitas. Mas nunca estamos. E se pensássemos um pouco com calma nem deveríamos nos abalar com tais partidas.
Eles deixam um pedaço com a gente.
Quando alguém nos deixa sob uma torrente de xingamentos e agressões físicas, marcas ficam gravadas na pele e na memória.
Quando nos deixa través da mensagem de um e-mail, explicando, em muitas linhas, o inexplicável, ficamos com o receio de abrir novas mensagens até que a obrigação nos force à normalidade e tenhamos que ser leitores de e-mails com o medo do que está escrito lá, ainda que seja boa notícia.
Quando nos deixa sem avisos, a marca é a espera e as perguntas.
Quando nos deixa escritos, perfumes e fotografias, são esses elementos que não nos deixam esquecer.
E então, quando esquecemos de lembrar ou de esquecer, notamos, em diálogos aleatórios e lembranças impertinentes, que, quem quer que seja, nunca nos deixou realmente. O corpo físico pode tentar criar abismos e conseguir que o silêncio se faça entre dois seres, porém jamais vai conseguir apagar as marcas que criou no outro.
Nessa vida-rodoviária o perigo é conhecer. Sempre foi.
Desconhecer ninguém pode. Talvez esquecer por um breve momento - e só.
As partidas são inevitáveis e as passagens nem sempre têm data de validade de um ano.
E quando a mala estiver pronta só as marcas - lembranças, fotografias e perfumes - restarão para contar a história.
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