Sobre a madrugada da Virada ( e de todas as outras do ano)

Se há uma maneira de conhecer a si e organizar os pensamentos essa maneira é caminhando, à noite - e melhora se for durante a madrugada. 
Esses dias de festas em que existe uma ilusão de recomeço e amor ao próximo estava caminhando no ar refrescante da madrugada alagoana quando me deparo com pessoas reunidas em uma igreja comemorando a passagem do ano, sob a tristeza habitual das capelas e "da vontade se Deus". Um quadro deprimente no qual eu escolho jamais participar, quando em posse das minhas faculdades mentais. Como ninguém enxerga que é a alegria o maior dom que uma congregação pode ter?
Mais adiante vi a reunião de pessoas bebendo e bebendo e bebendo, igualmente comemorando a Virada, sem alterar em nada a forma de comemoração executada na Páscoa, nas festas juninas, no dia da independência e nos feriados que aparecem. Seria falta de criatividade ou deficiência intelectual?
E, fora isso, nada mais resta que silêncio e vazio nas ruas e nas casas. Nada de felicidade. Nada de festividade. Nada de novidade.
A madrugada, esse ar frio e os ventos silenciosos que correm sob a luz da lua, é a voz da consciência que os cristãos não querem ouvir, trancados em suas capelas; que os indivíduos tentam calar com álcool e música de péssima qualidade em suas portas. Eu, de minha parte, prefiro as verdades, as repreensões e as acusações da madrugada a essa vida inflada que eles têm.
Os planos e amores da madrugada são efeitos colaterais de se estar vivo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá