Avenida
Caminhar durante a noite em Palmeira dos Índios é uma tarefa muito
interessante, se o caminhante não tiver muita coisa a esconder. E segredos nada
ocultos são o que torna o passeio interessante.
Em uma das artérias da cidade quase histórica, dados os eventos de corrupção
e de divertimento da história geral, é possível perceber como antigas maneiras
de pensar e “educar” as filhas ainda prevalecem na comunidade nada indígena –
como sugere o nome do município.
A avenida que leva o nome do Estado é longa o suficiente para que o
caminho da escola seja reformulado e finalizado em uma cama ou em um bar, ou em
uma esquina escura, ou em qualquer outro lugar muitíssimo diferente do destino
final e onde é possível libertar todo o hormônio acumulado nos anos de
reclusão. Então, como se fosse normal esperar a filha voltar da escola às 22h, ficam
mães e irmãos a esperar a pobre donzela que volta indefesa para o seio do
aparente carinhoso lar. Os anos em que a educação rígida em que a aproximação
de nenhum homem às filhas é permitida resulta no desvirginamento, inclusive
intelectual.
Em outro ponto da mesma grande artéria tem aquele ser macabro que fica
sentado dia e noite a observar os transeuntes, no auge de uma gordura imensa.
Sabe-se lá quais pactos foram feitos entre a criatura e a rua para que nada o
acometa durante a laboriosa vigília.
Para o ponto de encontro dos amigos motoqueiros, sempre tem um
joguinho de apostas para realizar.
E assim, com puras e sacras filhas voltando da escola, amigos a jogar
e seres bisbilhoteiros, a vida noturna de Palmeira dos Índios desenrola-se em
muitas historinhas sussurradas durante o dia.
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