O reinado do Atual e do Ex



Arte: Sunrise, George Inness, 1887. Metmuseum



Atual e Ex são duas espécies que são, por ordem das convenções sociais, arqui-inimigos ferrenhos que estabelecem, na pirâmide social, o papel excêntrico de inimigos que se amam e que têm em comum um objeto de consumo: as lembranças, as brigas e os segredos públicos entre dois indivíduos, que, sem muito esforço, se tornaram três (ou quatro, depende muito das circunstâncias).
São seres que desempenham a nobre arte do ciclo vicioso de falar mal, intrigar e reconciliar. Ciclo sem fim que só se acalma com o correr do tempo e das novas armações da vida. O Atual é o calor recente da sacanagem que escorre entre peitos, pernas, bocas e estradas durante uma parte relativamente curta da vida do ser em questão. O Ex é o calor que aquece mesmo durante o reinado do Atual e que durará para sempre, mesmo que ninguém considere aceitável.
Dos triângulos, quartetos, que se formarem durante a vida, a graça não está no fim, tampouco no começo, mas na coexistência das figuras do Atual e do Ex na mesma cabeça, brigando, ainda que inconscientes, no calor do corpo ou na cama solitária.

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