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Missiva

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Quadro: Young Lady in 1866. Edouard Manet. MET. O inverno está aí, de novo, para os que sobreviveram ao último outono. O mar está com uma ressaca daquelas e não aceita nem um agradinho sequer. Os ventos, ora uma força descomunal ora uma leve brisa, entra casa adentro e afugenta o gatinho do seu ninho de preguiça.  Não sei onde andam os desprezíveis de outrora - certamente corrompendo inocentes almas. Sei apenas que ainda me recupero apenas do leve contato que tive com eles - a malignidade de certos indivíduos é brutalmente peçonhenta.  Tudo continua igual, na medida da igualdade provocada por pequenas e quase insignificantes mudanças. Se eu não sucumbir ao veneno já adquirido tentarei sobreviver à doença da moda. Até lá, apenas viva - quem sabe um dia eu chegue sem mala, embora inteiro. 

Traços divinos

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Foto: Portrait of God. Julian Schnabel. MET.  Vamos perdendo a fé naquela divindade inacessível na mesma proporção em que envelhecemos e engordamos. É inevitável. A perda da crença é só um passo no progresso pessoal que galgamos durante a vida. Compreender isso dá-nos a oportunidade do autoconhecimento e permite-nos olhar o infinito com a calma que é exigida para a reflexão profunda e assertiva sobre grandes questões. Compreender isso dá-nos paz. E é essa mesma compreensão pacífica que não tangenciamos na intimidade dos nossos preconceitos e melindres e que acende a fogueira do desespero, do deboche e das fraquezas, cujas labaredas revestem igrejas, seitas e grupos filosóficos. Nessa mesma fogueira, voluntariamente, somos amarrados, amordaçados, incinerados como lenha podre e seca - para o deleite das baixezas personificadas em homens e mulheres santos. Nosso erro é sempre crer em nossas fantasiosas autodepreciações, olhando para um paraíso inexistente e um deus que só pode habitar...

O homem domesticado

Passada a novidade de um isolamento social e de uma doença potencialmente exterminadora, embora não a única, a sociedade segue seu curso egoísta rumo a mudanças dramáticas. E se a saúde tem sido o assunto dos governos, nacionais e internacionais, o sexo e as lacrações entre pessoas inexpressivas, por mais fama que possam angariar, têm sido a pauta do diário das redes sociais, as vitrines do século XXI. E enquanto o mundo virtual convulsiona com as exposições de anônimos, famosos e mentiras, o cotidiano segue sendo alterado em diversos aspectos e nem sempre de forma reversível. E é nessas mudanças que muitas mulheres acabam tendo que ir trabalhar, todos os dias, em meio a pequenas e médias aglomerações, enquanto seus homens ficam em casa, dispensados do trabalho ou em Home Office ou simplesmente parasitando a vida social e econômica dessas mulheres, das mais diversas idades. O papel do homem, como provedor de sua casa ou de sua fêmea não é mais a questão, mas sua utilidade social em te...

O caminho

Para o pobre, tudo.  Para quem pode, a fina flor do que o capital pode adquirir. Simples e direto. O que sobra de uma doença, para o pobre, é a conta do funeral, parcelada até a próxima morte, e alguma resignação sobre como a Divindade está refinando uma matéria bruta que nunca evolui. Agora, além do HIV, difteria, fome, miséria, tétano, pobreza, humilhações e todo o mix de servidão e doença existentes nesse adorável mundo opressor, tem mais uma pandemia que pode matar os desagradáveis e sujos constituintes da base da pirâmide social. Que o novo coronavírus faça o seu trabalho e limpe a terra, de ricos a pobres. O que sobra continuará vivendo, explorando e explorado, até que se instale um The Walking Dead real em que, de certo, não sobrará nem mesmo zumbis para contar a história.

Prioridades de Isolamento Social

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Foto: reprodução/Tumblr. "DECRETO Nº 40.576 DE  16  DE  ABRIL DE 2020 , do Governo do Estado de Sergipe, estabelece (...) Art. 2º Ficam prorrogadas até dia 24 de abril de 2020, as medidas de isolamento social previstas no art. 2º do Decreto n.º 40.567, de 24 de março de 2020, com exceção das seguintes atividades comerciais, cujo funcionamento passa a ser autorizado, nos termos deste Decreto: I – hotéis, motéis e pousadas, sendo vedado o funcionamento das áreas comuns de lazer, os restaurantes, bares e salas de auditório; II - lojas de material de construção;  III – imobiliárias;  IV - concessionárias de veículos;  V - lojas de auto-peças;  VI - cartórios e tabelionatos;  VII - escritórios de arquitetura e engenharia;  VIII - empresas de assistência técnica;  IX - óticas; (...)" A maior e interessante preocupação dos cidadãos sergipanos parece ser o funcionamento dos motéis , e...

Nota pandêmica

Vídeo: briga na porta da agência da CAIXA, em Aracaju-SE. Não é só a pandemia.  Vivemos um momento em que a ignorância e os achismos são tão grandes que suplantam o bom senso e o mínimo de civilidade que julgávamos ter adquirido com a deficiente educação fornecida pelos sistemas público e privado. A pandemia, advinda em boa hora, apenas revela o que a hipocrisia nossa de cada dia esconde sob camadas de pseudos princípios religiosos e morais. Traduzida em notícias falsas e tendenciosas, a ignorância tem feito reféns aos borbotões. E acompanha da violência, apimenta ainda mais as relações humanas. Na Paraíba, por não conseguir receber, por diversas razões, o auxílio emergencial disponibilizado, quase sob coação do Congresso, pelo governo federal um homem destruiu a fachada vítrea de umas agências da CAIXA. Em Palmeira dos Índios, no agreste de Alagoas, as pessoas aglomeram-se nas portas dos bancos em busca desse auxílio, colocando em risco a própria vida - seja pela e...

BolsoVírus em Aracaju

Vídeo: Aracajuano mostrando a "farsa" da COVID-19. O período de isolamento social nunca será tedioso enquanto houver um celular na mão de um bolsonarista . A presepada da vez é a denúncia de gasto do dinheiro público em...saúde. Claro que faz parte dos bolsonaristas (e nenhum que conheci fugiu a essa regra) querer para si tudo o que o Estado pode oferecer e negar a outrem o mesmo direito. Eles reservam o direito de ser proprietários exclusivos do desvario e da ausência da análise crítica e ampla das mais variadas situações políticas, econômicas e sociais. Para o bolsonarista aracajuano é absurdo que o comércio esteja temporariamente fechado e que os governos estadual e municipal preocupem-se com o bem-estar dos sergipanos, mesmo que o número de óbitos e infectados pelo novo coronavírus esteja "pequeno". No entanto, mesmo em estados com altos índices de mortos e infectados os bolsonaristas ainda resistem a ideia de promoção da saúde pública.  O que os ...