Traços divinos


Foto: Portrait of God. Julian Schnabel. MET. 


Vamos perdendo a fé naquela divindade inacessível na mesma proporção em que envelhecemos e engordamos. É inevitável. A perda da crença é só um passo no progresso pessoal que galgamos durante a vida.
Compreender isso dá-nos a oportunidade do autoconhecimento e permite-nos olhar o infinito com a calma que é exigida para a reflexão profunda e assertiva sobre grandes questões. Compreender isso dá-nos paz.
E é essa mesma compreensão pacífica que não tangenciamos na intimidade dos nossos preconceitos e melindres e que acende a fogueira do desespero, do deboche e das fraquezas, cujas labaredas revestem igrejas, seitas e grupos filosóficos. Nessa mesma fogueira, voluntariamente, somos amarrados, amordaçados, incinerados como lenha podre e seca - para o deleite das baixezas personificadas em homens e mulheres santos.
Nosso erro é sempre crer em nossas fantasiosas autodepreciações, olhando para um paraíso inexistente e um deus que só pode habitar em mentes doentes.
A questão, posta desde Abraão, não é a Divindade, mas a nossa capacidade de tornarmo-nos divinos. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá