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Decrépitos virtuais

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Foto: Doylestown House. Charles Sheeler. Met.  A necessidade de tudo postar nas redes sociais revela mais que o início de uma patologia - revela um caráter fragilizado que, não fosse as redes sociais, travestiria-se de preconceitos para impor ideais nocivas não apenas ao meio que frequenta, mas até mesmo a aqueles que estariam fisicamente e virtualmente distantes. Indivíduos que se autoafirmam a cada passo estão tão longe de si mesmos que seria preciso reinventar a própria noção de espaço virtual e alongar as incapacidades humanas para que essas criaturas conseguissem enfrentar o espelho sem ter que impor corretivos imaginários a suas próprias deficiências. O que se tem, aos montes e nas mais diferentes hashtags, são seres que vivem na pós-verdade utilizando ora palavras antiquadas ora nenhum signo para expressar a inutilidade de seus corpos, suas mentes, suas vidas em um mundo que não precisa deles.  O mundo precisa de realidade - seja no subjetivismo da alma ...

Cultura lacrimosa

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Foto: Statue of Diadoumenos. Charles Sheeler. Met. Domingo. Como de hábito, o dia de arrumar-se, ir à uma igreja qualquer e chorar porque não se tem um "pai" ou um "filho", mas apenas a promessa escrita e incomprovada de uma vida tranquila após a morte. Histerismos. Cada um que vai a essas liturgias creem-se em domínio da verdade e de uma fé inabalável; crê-se tomados de uma religiosidade danosa, tal qual os fanáticos puritanos de Silent Hill (2006), que arrasta à lama o bom senso e a imagem da verdadeira fé. E agora que aderem ao culto da tristeza, do abandono, da perda e da morte paterna há muito pouco o que se fazer para mudar tal cultura. O remédio é viver. Os abandonados filias que superem. A morte que cuide dos seus mortos. Os vivos que aprendam a viver.

O vizinho e a doutora

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Foto: Cast of Giuliano of Médici by Michelangelo. Charles Sheeler. MET.  O vizinho da esquina que só ouve músicas de baixa qualidade não é muito diferente da doutora que leciona em universidade pública - é a falta de refinamento que os aproxima. Um ouve o que lhe parece cult; a outra não possui firmeza de caráter para defender suas próprias ideias. A humanidade é assim  - covarde em sua maioria e ridícula em pequenas ilhas de isolamento que cria sob a forma de humanoides deprimentes e serventuários do dinheiro. Não há muito o que discorrer sobre quem não quer melhorar-se e seguir sendo parte de uma massa que alimenta mercados populares. Não há muito a ser feito contra essa cultura danosa que faz das periferias reduto de dinheiro e mau gosto.  Não há muito o que fazer para melhorar doutores que pensam ser a cereja do bolo do conhecimento. Apenas lamentar que gente com tal status quo não tenha compreendido o próprio papel em nossa sociedade e na atual era do ...

Break Resun

Reabertura do Resun. 12/08/2019.  A alegria da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Sergipe durou pouco. Ao som de uma orquestra sinfônica, o Restaurante Universitário  - Resun - retomou suas atividades já no fim do semestre letivo. Fotos e manifestações nas redes sociais chancelaram o fim de almoços em restaurantes com preços abusivos - para aqueles que têm dinheiro. Isso, na segunda, 12 de agosto. Na terça, 13 de agosto, a Universidade divulga uma nota comunicando a suspensão das atividades do Resun.  Os motivos alegados pela empresa foram: "(...) a contratada já arca com alto custo de pré-funcionamento do Resun, como manutenção de equipamentos, aluguel de contêineres frigoríficos, fora todo o gosto comum à abertura de uma filial." (Ofício: 043/2019 – MAO, p. 2). "(...) esta empresa teve sua conta bancária bloqueada judicialmente por fato que nos é estranho. Ainda hoje tenta-se apurar a origem do bloqueio que é de total desconhecimen...

Carta aberta aos discentes da UFS

Nos últimos dias vimos surgirem, como que brotando da terra como batatas, uma infinidade de indivíduos que estão muito preocupados com a reestruturação política estudantil da Universidade. Vimos folhetos sendo jogados em nossa mãos como se fossem subornos que compram nossa dignidade, processo bem semelhante ao que ocorre nas eleições congressistas. Ouvimos chapas defenderem a criação de redes sociais como se isso fosse a descoberta do ouro nas Minas Gerais de séculos passados. Ouvimos que a luta pela ampliação do Resun é uma pauta sempre presente e que a ampliação das bolsas de assistência estudantil e de pesquisa e extensão serão "retomadas". O que não ouvimos foram as razões que levaram tantos movimentos "atuantes" dentro da Universidade a se eximirem da responsabilidade de lutar quando as bolsas de assistência estudantil passaram a fazer parte de um processo segregador e injusto, regido por editais questionáveis e tão absurdos quanto os cortes do orçamento da...

O povo na luta

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Foto: Manifestantes contra o governo Bolsonaro. Aracaju 13/08/2019. A marcha para a desestruturação do Brasil segue sua trilha maléfica. Jair Bolsonaro, o presidente eleito sob uma espessa camada de mentiras e corrupção, tem mostrado que não vai decepcionar os seus mandantes. Fruto direto dos preconceitos, da xenofobia e da opressão, esse é o presidente que indica familiares a cargos públicos (nepotismo é culpa do PT?); que lê o evangelho de João e que foge à menção da verdade (irônico?); que ataca a biodiversidade nacional e que mantém um regime de alimentos à base de agrotóxicos (quanto mais, melhor). Mesmo sendo o centro de corrupções e atos não condizentes com o decoro esperado para um Chefe de Estado (será que ele se deu conta que é Chefe de Estado e não Chefe de uma Milícia Religiosa?), continua livre de atos de impedimentos e com o caminho pavimentado para as suas mudanças para um "país sem corrupção". O eleitores de Bolsonaro devem estar felizes - não tem ...

Na medida certa

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Arte: Eugène Delacroix. Met. Somos nós maiores que as circunstâncias ou são estas majestades de um cotidiano escrito por mãos sagradas e ausentes? Há quem sempre diga que somos resilientes, resistentes e pacientes e que, graças a essas e tantas outras características, somos maiores que as circunstâncias, problemas e estados degradantes. O que não dizem que é somos realmente maiores que isso, porém sobreviveremos a elas com farrapos sobre o corpo, cicatrizes marcando cada membro e uma infinidade de outras avarias que nos permite sobreviver, apenas. E recomeçar tão-logo superemos nossas próprias, internas e psicológicas, feridas. No curto prazo, as circunstâncias são maiores que nós. No longo prazo, se respirarmos ainda, nós somos os vencedores de uma batalha que já nasce com a chancela de sangrenta, violenta e mortalmente destrutiva. No fundo, somos do tamanho certo. Nem mais heróis, nem menos facínoras. Invenções que melhoram nossas vidas e que nós melhoramos a partir d...