Ultimátum

View of South Street, from Maiden Lane, New York City. MET.


 

Aos poucos, sem alarde, sem mensagens dramáticas, sem olhos chorosos, em um estado de vívida depressão, vou me envenenando aos poucos, sendo imprudente aos poucos, sendo autodegradante ao extremo. 

Morro aos poucos, de faltas imensas que foram transferidas, geração após geração, até chegar a mim, sempre com um requinte a mais. Falta o teto, o alimento, o lugar para a memória feliz e para a fotografia, faltam os sentimentos, falta a dignidade. 

Morro aos poucos pelos excessos que a falta faz. 

E, sendo um moribundo à beira da estrada da vida, marginal das próprias construções sociais, não é estranho querer deixar essa vida de serventia ao alheio. Não é. 

Loucura indescritível é fazer diariamente o que outrem deseja e esperar conquistar-lhe sorrisos e palavras cálidas. De mim só quer a minha força para construir seus castelos e manter o cheiro de mofo das edificações erigidas em um passado sangrento. Porém, darei apenas a minha ausência, o espaço vazio onde deveria estar a minha força. E nada mais.

Morro aos poucos. Enveneno-me aos poucos. Nunca sobrevivo.

Ou vivo ou nada!

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