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A hora da Senhora do Entardecer

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O notebook, há tempos ligado com o Power Point aberto, aguardava minha boa vontade de parar e fazer minha obrigação cujo prazo está acabando. Sacolas espalhadas no chão denunciam minha completa falta de interesse em revolver-lhes até a completa organização. É sábado e fez tempo quente nesse pedaço da caatinga. O inverno acabou  mesmo - foi embora e nem se despediu. Dentre tudo o que podia fazer a melhor opção era observar, do alto, o findar do dia, saudando a Senhora do Entardecer.  Muda-se a paisagem, destroi-se a Lembrança e o tempo passa.  Mutante vida, apenas sua beleza não se desfaz. A Senhora dos Nove Oruns é a Mãe que rege, protege e abençoa e na ponta do seu florim está a direção do meu caminhar. Sob os telhados as pessoas não podem imaginar o tempo do findar do dia e diante da ignorância, não há o que repreender (os ignorantes não sabem o que dizem). O mundo espera. As atividades mundanas esperam. Eu espero. Porque quando ela passa todos os homens a s...

Amor em oito mãos

É entendível ter três mulheres, em cidades diferentes, com aspectos culturais e físicos ímpares. Uma tem a cor da terra agreste, embora a delicadeza torne-lhe ainda mais bela à luz do sol nascente. Outra tem o frescor da noite, manhosa como uma fera em rara descontração. E a terceira possui o vigor de dez furacões em terras virgens de intempéries tão violentas. Quando sua casa é o mundo, o abraço terno e forte faz-se presente em braços coloridos, de nomes diferentes, com desejos desiguais. Há orações no almoço. Há lascívia na sesta. Há paixão bruta no amanhecer. Pode ser que alguém brade que isso seja só safadeza. Pura maldade com o coração nada romântico delas.  Elas sabem, mesmo que não digam, que é preciso mais de uma mão sobre a carne que lhes pertence em rateio.  Sim, elas bebem o mesmo leite, amassam a mesma carne, batem no mesmo lombo.  E isso é o amor em faces diversas.

A normalidade da rodoviária

Faltam poucos minutos para a hora da Ave Maria. A luz piscante da rodoviária tentar deixar o ambiente sombrio. À minha frente uma mulher, ao telefone, indigna-se com o relacionamento em colapso em controlada indignação. "Já são dois finais de semana...não acredito no que eu tô ouvindo..." Explicações vazias são dadas. Um romance falido encerra a ligação. E somente a falta, apenas a falta (seja lá do que for) mantém a criatura sentada, passiva e alheia ao que poderia acontecer se tivesse o ânimo para ser o auto-preenchimento emocional que tanto busca e precisa. Os mosquitos começam a aparecer e o frio está insidioso na rodagem, querendo entrar portão a dentro. É sábado. É o fim.