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Mostrando postagens com o rótulo Orixás

Dia 02

  Vídeo recebido por whatsApp. Gravado em Aju-SE. É dia santo. No mar a Rainha, Princesa, Força e Energia, é adorada. Longe do mar também. Em tudo ela está. A todos ela abençoa, ouve, afaga, escuta.  Mãe. Sereia. Deusa. Em terra também é dia útil - os verdadeiros Desuses, vulgarizados no título de meros santos, não ganham feriado (degradante herança colonizadora) - em que o pobre, com menos dinheiro, menos dignidade e menos espaço de lazer, continua pegando ônibus urbano lotado onde a peste se faz presente, embora ignorada pela demagogia prevencionista.   Para o pobre não há pestes aos olhos de empregadores, governantes e aos próprios olhares. A peste foi elitizada juntamente com as medidas de prevenção. Eis a realidade. E ocupado em chegar no horário para bater o ponto do dia de trabalho ou para chegar em casa, estafado, sem forças para pensar, o pobre não reflete sobre si e a sua situação.  O segundo dia tem velhas hipocrisias, antigos cabrestos, nenhuma novid...

A dança celeste

De repente, no raiar do dia, cedo como em todo verão, o tempo vira e nuvens de chumbo bloqueiam a luz  do sol. Rajadas de frio avançam sobre os desavisados. E, não mais que de repente, o céu se ilumina e tambores celestes anunciam a Sua chegada. Trovões avisam. Raios iluminam. Xangô passa em revista à tropa. Iansã cavalga à frente, na batalha da vida. Os desavisados temem. Os fiéis saúdam. E o exército de Suas Majestades prossegue.  O céu e a terra, juntos, estremecem. A dança nunca acaba. Os filhos, atentos e cheios de amor, dormem em tranquila harmonia com seus pais manifestos. 

Do Caçador à Caça - Okê Arô

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Pintura: Vista no Catskill—Início do Outono. Thomas Cole. The Met.   Dia de Oxóssi, Senhor de toda caça. E, por um momento, pensei ter ouvido um barulho no céu, embora limpo e de sol a pino. Assim, pela primeira vez depois de meses, fiz a carne de soja que ganhei da vizinha alguns meses atrás. Fui juntando os temperos industrializados com um tempo arbitrário e, no fim, deu tudo certo. Ficou com o gosto característico de comida ruim que aprendi a fazer nos últimos tempos.    Comida ruim. Mal cozinheiro ou nunca fui nem razoável cozinheiro? A sorte é que Oxóssi nunca me pediu para cozinhar a caça porque a vergonha que eu passaria não está na história do Aiyê.  À parte meus dotes culinários e embalado com uma brisa fresca, reflexões povoaram meu ori com extrema força, pois: O que vale a pena?  Essa é a pergunta difícil quando não se tem para onde ir, como ir, com o que se tem e como se pode obter.  Oxóssi me anda fazendo pensar e isso é a flecha que me impulsi...

É a primavera chegando ao fim

Vídeo: Rafael Rodrigo Marajá Da janela podemos ver um mundo rotineiro, cronometrado, dividido entre achismos e vizinhos. E em uma realidade pandêmica, atribulada, ocupada, preocupada, nossa janela, por muitas horas do dia, são de apenas algumas polegadas.  De repente, sons celestes, tímidos, são ouvidos e a tensão aumenta. Para os fiéis, são os primeiros sinais que o Rei está passando.  A chuva cai. As janelas são fechadas. O povo corre. E então o verão mostra sua face durante a primavera. É o fim para ela. É o renascimento para ele.  É o espetáculo belo, gratuito, aleatório, perigoso e dominador.  Os filhos da tempestade não temem e os Orixás mostram, embora não precisem, a vida que flui, muda, transforma e é transformada.  Vídeo: Rafael Rodrigo Marajá

A beleza do Candomblé

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A beleza do candomblé está no relacionamento entre homens e Deuses e no fato de que estes nunca estão suficientemente longe para que não cuidem dos seus filhos. Uma religião que mostra que o respeito e a delicadeza podem estar de mãos dados com a força. Uma religião cuja história revela a história do povo brasileiro e que, por essa razão, é vítima de ataques e de preconceitos daqueles cuja raiz é negra e religiosamente candomblecista.  Tal sentimento do belo decorre da dança, da música, do respeito, da comida, da tradição, do idioma e da deferência entre os próprios Orixás e entre homens e Orixás.  Que o amor que Oxalá sente por seus pares e por seus filhos se estenda a todos aqueles que demonizam o que é diferente fazendo com que as barreiras que impedem o crescimento espiritual de todos nós sejam vencidas por esse amor. Que sejamos negros, na alma e na força do nosso axé.

23:10 - Pelo ralo*

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Escultura: Aquamanile in the Form of Aristotle and Phyllis. Metmuseum. E tudo vai mal quando vai tudo pelo ralo, deixando sobre o piso restos solúveis. E vai qualquer lembrança boa e de tudo sobra apenas as caixas de maldizer sinceros ou não. Mal vão também as tempestades sem frio, no calor das destruições banais. Ah, essa banalidade inverídica dos amores e paixões presentes e decentes! Quando não mais os ventos trazem as sólidas formas de nada adianta o pesar, ou o pensar, de perdido tempo, ou não. De nada valem as coisas, os planos, os ditos e desditos, os fatos, os segredos, os causos e os abusos. Não vale mais nada a moeda de troca, muitas vezes, desvalorizada, porém única. Já não vale mais o passado, porque as águas de março lavaram o chão e foram para o oceano do esquecimento as marcas dos pés cansadas, calados, imutáveis, sempre em pares. Nos trovões surgiram os ícones ocultos pelo silêncio traiçoeiro e dos raios a luz fez brilhar as imperfeições das paredes. Valh...

Cine Brasil: Tenda dos Milagres

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O Brasil pode ser representado muito bem por suas produções cinematográficas. Hoje eu indico o filme Tenda dos Milagres, baseado na obra homônima do escritor baiano Jorge Amado, de 1977.  Tenda dos Milagres levanta questionamentos sociológicos e antropológicos sobre a mestiçagem brasileira e a extensão das religiões de matriz africanas que estão, em maior e menor grau, em todas a famílias brasileiras e influenciando as mais diversas profissões. Com direção e roteiro de Nelson Pereira dos Santos e diálogos riquíssimos, Tenda dos Milagres é uma verdadeira pérola do cinema nacional e que deveria ser assistido por todos aqueles que dizem não haver, na cinematografia nacional, bons filmes. Bom filme e boas reflexões!

Canibais culturais

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                “Não temais as censuras dos homens nem vos atemorizeis pelas suas injúrias” 2Néfi 8:7 Pintura:  A Womam Murdering a Sleeping Man, from images os Span Album, pag 87. Goya. 1812-1820. Vira e mexe e imagens de orixás são quebradas; as imagens de santos são igualmente desrespeitadas. Filhos e filhas de santo são agredidos à luz do dia e católicos e protestantes agridem-se mutuamente. No frigir dos ovos todos saem feridos, na crença, no espírito ou no direito constitucional da livre manifestação de opinião e de crença. Os homens aprenderam a temer os iguais e o poder limitado que emana da raça humana.  As agressões são apenas  meios de expressar o medo e obstinação em humilhar o próximo e suas convicções. E mesmo desde 600 anos antes de Cristo até hoje o homem continua sendo a representação da dualidade entre o bem e o mal, seja na intolerância ou na simples falta da aceitação do novo.  O mundo...

A saga ENEM: Revival

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Então eu estava lá, escrevendo na barriga da besta quando... um o Aplicador da prova, que não sabia nem o que estava fazendo, começa sua saga particular para matar a fome de 10 meses de jejum. O Aplicador rasgou o saquinho de amendoim chinês derramando-o todo no chão ( aí vão meia hora para juntar todas as bolinhas salgadas), depois começou a comer o kit de barras de cereal e mais uvas e bolos, levadas de barulhentas bolsas plásticas brancas. Ele deve ter pensado "como faço para fazer o máximo de barulho para aqueles fodidos? Ah, sim, vou levar uvas e bolo dentro de bolsas brancas e lá eu vou tirando uma por uma das uvas e depois pedaço por pedaço, até não restar mais nada e o barulho ter sido épico". E assim ele fez. E mesmo que mais irritante tenha sido isso que as conversas imbecis e paralelas qye teve com a Chefe de Sala (a mesma de ontem, diga-se), foi a fome canina seguida da sinfonia de plásticos que mais quase me fez matá-lo de vergonha.  Mas ou um anjo e só resol...

A Arma Escarlate

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Conhecido pela literatura de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Machado de Assis e tantos outros imortais, o Brasil tem visto uma nova onda vermelha em suas regiões. Uma nova maneira de ver a literatura fantástica nacional. A Arma Escarlate não é, como alguns gostam de comparar, um "Harry Potter brasileiro". E ouso dizer, jamais o seria - e pelos bons motivos. Hugo Escarlate, o Idá do Dona Marta, é a representação real do jovem brasileiro, ainda hoje, esquecido pelo holofotes da mídia assistencialista. Hugo nasceu e viveu em uma favela. E poderia ter nascido e vivido no interior do nordeste, da amazônia ou no esquecido Acre, estado de Átila Antunes, e ainda assim representaria a legião de filhos sem pais(registrados); de jovens sem orientação social e educacional, vítimas e agentes da violência; de indivíduos imersos em submundos dos mais variados, do saudável ao nocivo. Renata Ventura explorou o que o Brasil tem de sobra: ...

Santos

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Dia de todos os santos. Santos. Santo tem graça, pureza, imácula. Esse é só um tipo de santo. Representação de Exu, de James C. Lewis Tem santo de terreiro, que foi gente também. Tem santo que faz festa em dias marcados. Tem Santo que tem dia. E dos vários tipos de Santos cada um tem o seu, cada qual tem suas características e todos possuem a unicidade das benfeitorias que podem ser feitas em prol do homem e da eternidade. Também pode existir, para alguns, a ausência deles. Santo é como uma Bíblia aberta em um móvel que ninguém nunca lê, pode até esquecer que tem, mas está sempre lá. Uns não aceitam que sejam tratados como brinquedos. Outros são santificados pelo querer da elite e acabam sendo perpetuados pela eternidade, mesmo que não queiram. O mar é Santo. A Natureza é Santa. Estátua é Santificada. O Trovão é Santo. Os pedidos também. O dia de todos os santos quer dizer justamente isso: o dia é de tudo aquilo que é santo, tenha vivido ou não, seja vivo ou não, r...