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Mostrando postagens com o rótulo Dia

O terrível

Quando o dia vai esfriando e enegrecendo vão aparecendo os fantasmas de uma vida estranhamente ocupada demais - vazia demais, infeliz demais, solitária demais.  E vai caindo, o dia. A luz dando lugar a sombras. Os amantes refugiando-se em pequenos ângulos. Portas fechando-se. Televisores sendo ligados. Cuscuzeiros esquentando em fogões, quase todos. E a vida sendo desocupada, revelando a crueldade e a inexorável verdade. Há quem jante em restaurante, falando de trabalho, com colegas de trabalho, como se pudesse estender o dia e as horas de estresse para espantar o terrível. Há quem compre cerveja e convoque os colegas para "divertirem--se", em conversas estéreis, até a cerveja acabar. Há quem nem em casa chega, nunca. Daí a pouco o dia nasce. Os cuscuzeiros voltam aos fogões e olhos cansados não de veem nos espelhos mofados de banheiros tantos. Nascendo, com uma luz forte, o dia esconde os escombros do terrível, do vazio.

Urso polar no Dia

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  Pessoas tentando embarcar no Marcos Freire II - Dia. Terminal Dia O terminal DIA, na capital sergipana, é, ao mesmo tempo, a praticidade de locomoção para qualquer ponto da capital e da grande capital e o inferno no quesito organização e educação popular. O Terminal é sujo, e nem sempre de sólidos – existe sempre a leve camada de gordura nas poucas paredes, nos pilares e até nos cartazes. Uma limpeza não mataria o Setransp, acredito, e nem sairia caro. Além disso, o pior mesmo nem são as lanchonetes ao lado dos banheiros recebendo todo o odor pestilento nem as bactérias pelo ar; o pior está residindo nos usuários: nos horários de pico as pessoas agridem-se para entrar nos automóveis, machucam-se em um desespero voluntário como se fosse necessário agredir, xingar e ter pressa se o ônibus não vai sair antes de estar suficientemente lotado, com pessoas saindo até pelas janelas. Uma das piores linhas, nesses horários, é a Marcos Freire I e II – Dia. Um aviso aos desavisad...

Bom dia

É preciso um pouco mais de ousadia para começar um dia. É necessário, quase que uma extrema coragem, para sair da cama, cair no chão e ir andando até a porta onde um até logo será dado ao conforto e conformismo da casa. E, como também é preciso trabalhar, suar, viver e morrer, lá vamos nós, em ônibus, táxis, bicicletas, amores perdidos e desiludidos para mais uma jornada de trabalho, no reapaixonamento por si e pelas causas perdidas que tanto nos encantam. Vamos com fé, sem ela; com alegria, e talvez entusiasmo; com quilômetros de bagagem nas costas, ou apenas alguns metros; com certeza, ou a completa falta dela. O resto é estrada, casas, pessoas, roupas, quinquilharias. A falta desse resto são cafés da manhã na estrada, risadas, histórias, causos, estrelas não contadas, segredos, confidências, o nada e mais um pouco. 

Os tênis do caminho

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Cena do filme Os 3 Os tropeços da caminhada, nas ruas e avenidas sempre tão iguais e poeirentas, são os obstáculos que precisam ser enfrentados para compor, aos poucos se sempre devagar, uma história, uma lembrança, amores, despedidas, encontros, recomeços. Às vezes são tantos tropeços que não tem calçado que resista, olho que não chore diante daquele amor que vai embora após tantas juras e promessas, corpo que chegue limpo ao final de um dia tropeçante. Um lance de escadas Em uma sacada Vários pares de pés Muitas propagandas é o que és! Muitos adidas todos iguais Reles e fúteis, no mais Não passam de meras propagandas Mas a mim não enganam Essas aparências sacanas... De um lado estão marcas, roupas, joias, fotografias. Do outro, estão os sentimentos – feras mutantes que não se aquietam em uma única maneira de ser. No meio, não do caminho, apenas no começo dele, está quem enxerga o chão e o céu, no mais alto grau de incompreensão, saudade, lástima ...

TV em ônibus coletivo

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Ônibus com TV em Aracaju O aumento nos preços das passagens do transporte coletivo da maioria das cidades tem provocado justificadas revoltas, manifestadas principalmente por estudantes – a classe que mais se manifesta -, pela concepção de que o aumento fere as contas de cada habitante, deixando um déficit sem precedentes no bolso de trabalhadores assalariados e estudantes sem salário. Além disso, a qualidade do transporte oferecida é vergonhosamente baixa e sem respeito ao consumidor que, sem muito esforço, se lota em pouco espaço, contrariando qualquer lei da Física. Para justificar o aumento as empresas recorreram aos preços dos combustíveis e aos impostos, o que serviu muito bem. Já para os consumidores, em Aracaju e região metropolitana, algumas linhas estão com aparelhos de Tv para divertir aqueles que mal podem se mover, dada a compressão de inúmeras pessoas no mesmo diminuto espaço. E embora a programação seja apenas letreiros tediosos sobre novelas e alguma notíci...

A longa vida

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Acordar precisa ser um exercício de satisfação. Para ser uma satisfação é preciso que se tenha a preguiça de querer acordar e, ao fazê-lo, sentir o ar gelada da madrugada invadindo os pulmões, deixando para trás o rastro de uma pequena dor gelada pelo nariz. Acordar não pode ser só abrir os olhos e fazer, mecanicamente, os mesmos movimentos, ter os mesmos pensamentos. É algo que tem que retirá-lo da monotonia de um sonho, ou simplesmente da escuridão do sono profundo e o jogue-o para toda a vida que pode ainda estar dormindo quando seu maior instrumento despertar. Por que não acordar na madrugada? Por que dormir rotineiramente no mesmo horário, perdendo tudo o que o silêncio e o verdadeiro início da manhã tem para oferecer? Acorde! Olhe para a vida e diga-lhe sobre tudo o que se passa, sem perder nenhum detalhe. Desligue tudo e caia em si, com o ar frio do começo de mais um dia? Não. Assim como cada noite, os dias não podem ser mais um. Mas o dia em que tudo dará cer...

Um Abraço

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Abraço panda no dia do abraço Abraçar é importante para alguns e indispensável na vida social. Traz o lixo e o luxo das relações humanas com um alto grau de periculosidade e faz com que as pessoas aproximem-se demais de uma intimidade escrupulosa. Para muitos, o ato de envolver outro indivíduo, um animal ou um objeto de desejo é simplesmente a afirmação de posse sobre algo que conquistou com muito sacrifício e empenho, independente dos meios. Entretanto, o papel desempenhado pelo abraço ultrapassa qualquer forma definível, pois sob os braços e apertos são escondidos desejos, segredos, calma, paciência, compreensão e tudo o mais o que duas ou mais pessoas podem planejar e pensar. Tido como um ato de amizade e irmandade, o abraço deveria ser posto na sociedade como um elemento improstituível.  Abraça-se queridos amigos, bem-amada(o), irmãos e quem se gosta. Mas são dos abraços falseados e das dissimulações subsequentes que se faz o mundo e todas as engrenagens de nossa vu...

Hora coletiva

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Vendedores de sorvete, amendoins, doces, eletrônicos, motoristas e cobradores de ônibus, marginais, trabalhadores, estudantes, desocupados. Todos juntos em um ambiente que só pode ser comparado com um forno cujas chamas emanam das pilastras concretizadas, das estruturas metálicas, do chão imundo que guarda as andanças de uns tantos indivíduos que buscam a rotina de uma vida sem sentido ou uma estagnação emocional, que tantos gostam gostam de chamar de estabilidade.   Ao longe, sob gritos de revolta e um palavreado digno de uma classe jamais evoluída, surgem organismos briguentos, capazes de se matarem e assassinarem que intervir na questão de honra rueira. Xingam-se. Agridem-se fisicamente. E os ônibus continuam a entrar e sair do lugar nenhum para a espera com a frieza do trabalho mecânico, tão bem executado no forno aberto da rua. Para o espetáculo foram convidados todas as pessoas entediadas pela espera interminável daquilo capaz de levar-lhes ao dest...

Vésperas femininas

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A aproximação do Dia Internacional da Mulher, 08 de março, sempre reacende velhas e chatíssimas questões, que não têm nada de polêmicas tampouco de utilidade prática. É possível observar em muitos lugares, principalmente públicos, a manifestação de incômodo de alguns cidadãos com a tal da desigualdade feminina. E, em certos pontos, até estão corretos e faço coro. Entretanto, não podemos seguir todas as reclamações como se fossemos bois desgarrados, que não pensam nem tem opinião própria e formada. O oito de março é banhado por lamúrias de que a mulher não tem seus direitos reconhecidos e quando os têm,  não são devidamente respeitados. Uma conversa que nos acompanha desde sempre e que não deixa de ter razão em certos pontos. Mas avaliemos direito as situações! A mulher já conseguiu se colocar na vida social, política e econômica de forma categórica e demonstra, a cada dia, competência e habilidades particulares; já demonstrou, e continua, a  mostrar à socieda...

Dia excedente

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Um dia a mais para a cobrança de impostos, para enfrentar filas, para aproveitar a praia (quem puder) ou o cinema(quem quiser)... O fato é o seguinte: com um dia a mais no calendário anual temos que estudar mais, trabalhar mais, estressar mais e todo o cansaço e desgaste que vinte e quatro horas a mais pode causar na vida de um indivíduo. Pode, a princípio, parecer bom ter um dia sobrando, mas no fim o resultado pode não ser o esperado. Para que colocar mais um dia na vida de tanta gente? Pode ser que para alguns não faça diferença ter que viver(?) um dia a mais, porém para aqueles que são submetidos à rotinas isso pode significar um verdadeiro incômodo! Ah, se esse dia fosse de festa, colando com a de Carnaval e prevendo às comemorações de Páscoa - a parte do chocolate -, seria um presente, que pudéssemos escolher em não trabalhar e receber mesmo assim, que pudéssemos acordar mais tarde e surpresas, boas, esperassem por nós! Entretanto, nada disso acontece. Então é m...