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Mostrando postagens com o rótulo Chico Buarque

Anestésico musical

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Warrior and Attendants. Séc. 16-17. Metmuseum.   O plano de destruir a cultura popular, não exclusiva apenas dos governos de centro e extrema direita, parece estar seguindo o caminho do sucesso. Entre músicas fáceis de decorar e reproduzir e subcelebridades instrumentalizadas no desmonte institucionalizado, nos diversos níveis de governança, não há mais letristas que retratem a vida do pobre e a hipocrisia de uma sociedade doentemente religiosa, como se sabe em Construção e Geni e o Zepelim de Chico Buarque ou Faraó, eternizada na voz potente de Margareth Menezes.  Não querem que o pobre pense e reflita sobre si e suas condições de vida. Não é interessante para os políticos que se mantém no poder no planalto central ou nas casas de poder "popular" dos governos subnacionais. Não se ouve mais nada semelhante a 2 de junho, de Adriana Calcanhotto, Bichos Escrotos, dos Titãs, ou O tempo não para, do Cazuza, nos meios de comunicação e na boca do povo. Em meio a tragédias ambientais...

Um fim abominável

Quando se acaba um relacionamento, às vezes, um dos envolvidos tem a petulância de desejar felicidades “nessa nova etapa”. É o “seja feliz” mais hipócrita dito na hora mais inoportuna que se pode conceber. Depois do choro, do ranger de dentes, da raiva e das conjecturas e da consequente aceitação, vem a vigília nas redes sociais – sempre muito atento(a) a fotos, viagens e opiniões. A efêmera busca por indiretas respondíveis. Um dia, sempre nessa caçada, um ou outro fica feliz, sacode a poeira do passado e vai seguindo em frente. Um dos dois, sem perder nenhum detalhe da vida alheia, busca brechas que confirmem uma pseudo tristeza disfarçada ou uma pseudo dor de cotovelo latente. A pessoa que seguiu em frente, que também viveu os mesmos passos que a outra e que conseguiu simplesmente deixar para lá a bobagem que é sofrer por um “amor” abortado só pode esf...

Leite derramado

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Uma família decadente, assim como o Regime Imperial brasileiro. Membros da "alta sociedade", os Assumpção apoiaram-se nos alicerces do Imperador do Brasil, e antes dele nos do Rei de Portugal, parar criar e cultivar poder e dinheiro. Os Assumpção, como todo brasileiro, acabou na mistura de etnias e de costumes, caindo na obscuridade do esquecimento e do obsoleto até que ninguém mais lembrou da outrora poderosa família. Leite derramado , de Chico Buarque, é uma narrativa simples, cheia de flashbacks, de um centenário Eulálio Assumpção, deixado pela mulher - que sofreu repentinamente de uma tuberculose e acabou afogada por um capricho do mar, pelo que disse o médico -, que ora mistura o presente com o passado, ora as lembranças só do passado, ora nem sabe mais em que época se encontra e que desenvolve uma paixão pela enfermeira. O leitor se deparará com vários momentos históricos do Brasil sob a óptica da decadência dos Assumpção e sem demora perceberá certa semel...

Benjamim

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Chico Buarque sempre escreve de um modo que se atenção não estiver concentrada no papel à frente o fio da meada do enredo se perde. E para reencontrá-lo é complicado. Em Benjamim o leitor encontrará uma história chata, outro velho problemático, uma morte certa e várias indecisões. Buarque torna o amor no que ele é – um problema, principalmente para quem não têm com o que lutar. E Benjamim, uma celebridade falida, vivendo sob as mais diversas circunstâncias que volta e meia trás o passado, representa o amante fraco, desiludido e estúpido que corta o tempo e resiste a corpos, nomes e endereços. Um livro cansativo, mas que é bem intrigante e particular; um personagem decrépito; uma leitura que significa enfado para muitos. A crítica aclamou Benjamim. Eu digo somente que segue o estilo de Buarque e que retrata muito bem uma época do Brasil e que representa sem pudor e com ousadia a literatura nacional. Sem os exageros dos bajuladores, o livro pode ser descrito apenas como bom. ...

Obra de arte: Dona Flor e seus dois maridos

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Em uma dessas madrugadas aí estava jogando conversa fora quando, de repente, começou no Corujão a adaptação cinematográfica de uma das obras de um dos maiores escritores do Brasil, quiçá do planeta: Dona Flor e seus dois maridos, do baiano Jorge Amado. O filme conta com José Wilker e a eterna queridinha das obras de Amado, Sônia Braga, entre outros grandes intérpretes. No entanto, a maior estrela do filme não são os atores, a trilha sonora perfeita, de Chico Buarque, nem a bela Bahia – é a história! Dona Flor e seus dois maridos , o livro, é a comprovação de que o amor é incandescência, fogo e vulcão que transpõe a moralidade e a pessoalidade do egoísmo. Dona Flor é a personificação da mulher que ama e que se doa, que quebra os preceitos morais que a prende aos dogmas sociais; Vadinho é o cafajeste com o qual a mulher, até mesmo nos dias de hoje, perde-se loucamente nos braços da “desgraça”, do amor, do sexo e da aceitação tácita que torna a vida ora feliz, ora difícil. Teodor...

Liberdade Negada

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Os anos de ditadura, ou dita mole como alguns um dia chamaram, levaram o País às mais diferentes e inusitadas maneiras de lutar contra a opressão. Em meio ao processo ditatorial muitos foram mortos e encontrados, outros apenas mortos e desaparecidos e outros tantos e tantos foram silenciados “pelo bem da identidade nacional”. Brasil, ame-o ou deixe-o! Certamente se todos pudessem teriam abandonado suas casas inseguras e partido para o exílio. Infelizmente apenas uns poucos puderam fazer isso. A maioria teve que ficar e suportar. Jorge Amado teve suas obras queimadas em praça pública por ser considerado subversivo. Que tragédia! Na música A Banda do Chico passou e todos, um dia, falaram do que era importante com Vandré para não dizer que não falaram das flores. Entretanto, entre a cultura possuída pelo poderio militar e a vida comum existia a inflação controlada e a paz nas ruas, como dizem – a verdade é deixada para quando tivermos nos recuperado de tamanha ferida, e o amor atr...

Uma revolução na gigante roda

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Açude, Praça Moreno Brandão - Palmeira dos Índios -AL Do alto podia ver todos os telhados banhados pela ausência da intensa luz solar, imersos em uma escuridão quente ao som das correntes de ar vindas do longe desconhecido – provavelmente oceânico. De lá, sempre incerto quanto à sua segurança, podia ver além da magnitude da noite, em uma viagem sem meios físicos e sempre acompanhado. De lá não se via o infinito horizontalizado. Ao lado, acompanhando o balanço do vento na cadeira inconstante como o coração das efêmeras, estava a surpresa de um telefonema sem cobrança. E com a mesma mão que ligara, estava a apertar, sempre e cada vez mais forte, a mão que atendeu o chamado, cuja conversa é continuamente um segredo de estado capitalista. Um laço de mãos diferentes apertando-se a cada subida para largar-se um pouco na descida – ora pelo medo da constatação do próprio medo, nunca admitido, ora pelo que os outros iriam achar por tão feroz força aplicada. As luzes amareladas das...