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Estranha História #4

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E então sairão do mar com o sol aquecendo suas peles e uma conhecida sensação de intimidade. Não a intimidade lasciva, apenas. Uma intimidade capaz de poetizar o básico e polemizar em bom som os mais íntimos segredos. Ela não era tudo aquilo que ele imaginou. Sequer chegou perto da mais tenra imagem sonhada. Ele, idem. E, mesmo assim, chegaram ao consenso elementar do "gostar daquilo que é estranho". Hoje ela saiu dos trilhos novamente e ele não sabia como tinha ido parar no meio daquele devaneio, em um dia em que todos os mortais, os pobres mortais, estavam cumprindo horário em trabalhos, academias e lanchonetes. Sabia apenas que ela, fora do mar, o deixava no mais completo vácuo, sem ar, sem chão nem direção. Ela puxou o lençol e revelou suas curvas. Ela puxou a imaginação dele para além do cômodo e o instigou a ir além. Ele sabia que ela era perigosa. Sempre soube. E foi por isso que se deixou levar. Mas agora, parado ali, com a chave na mão e alguém tagarelando...

Estranha História #3

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Um dia ele a viu de perto, bem perto, e pôde observar seus pequenos defeitos, a cor dos seus olhos. Nesse dia, acima de qualquer dúvida, ele soube que os deuses não havia brincado. Nesse dia, apesar de todas as tentativas, os dias anteriores não existiram mais, nem passado teve. Só o presente passou a ser fantástico. Sob seus olhos ela foi desnudada - sem mitos, sem artifícios, sem sacrifícios. O sol do fim de tarde sequer queimou-lhe as retinas ao olhá-lo diretamente. Nada tão doce quanto sua face. Nada tão comestível quanto seu sotaque. Nada tão atraente quanto a alegação de atraso. Ela, sempre alheia, tão distante e tão perto, passível de abraços apertados, atapetados de beijos. O ambiente, tão impróprio. Ele, lava derramada sobre a montanha. A tarde, mais cedo, tardíssimo, com o tempo gritando ordens de pressas e compromissos, acabou de repente, tal qual começara. Eles, na separação, inflamada, de um não pode estar juntos, próximos, cúmplices. Até quando, ele pergunta-s...

Estranha História #2

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Ele, andando sob o sol da manhã, olhava com desatenção para o caminho, mirando as ondas do mar. Ela, sob o véu do mistério, ocultava-lhe a face em algum lugar. Ele, pensando no mistério das conchas do mar, não sabia que mistério fazia aquele rosto se esconder. Ela, alheia a tudo e a todos, seguia sua vida . Ele, não sabia que caminho seguir. Ela, tão diferente! Ele, igual a tantos outros, achava-se menos que outros. Ela, tão inatingível, sequer olhava-o. Ele não era mais ele. Ela era tão ela! Súbito, ele lembrou-se: como convencê-la a ir com ele até o mar? Então lembrou-se - aquilo que se chama amor dispensa convencimentos, apenas existe. E foi caminhando...

Estranha História #1

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A Pequena Sereia Ao passar da minúscula sala para a ainda menor cozinha, na pretensão de um feito incrível - fazer o jantar - ocorre-lhe uma ideia e um sorriso debochado rasga seu rosto em um prazer sem limites. E não consegue deixar de pensar nela, nas suas formas, no humor tão parecido com o dele. E o riso cede lugar ao espanto - finalmente encontrou o que procurava? Conheceu-a por mero acaso, em umas dessas brincadeiras sem sentido que o destino faz vez em quando e cuja razão ninguém descobre. Conhecer não é exatamente o verbo a ser utilizado, atraído magneticamente pela cor de bronze de sua pele é o que mais se aproxima do ocorrido. Depois de vê-la o conceito de beleza foi instantaneamente redefinido e sua vida não foi mais o que era. Ela, esfinge, sorri sem modéstia! Poderia ter sido o corpo lindo que ela expõe sem modéstia por aí; poderia ser a pele macia; poderia ser o sorriso quase debochado; poderia ser sua seriedade; e mesmo assim algo indefinível o ...