Palavras em riste!
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Hiawatha, Augustus Saint-Gaudens. MET. |
Ali na esquina da praça Horácio Souza Lima, onde tantas expressões são manifestadas diariamente e por tantos indivíduos particulares, ouvi, em alto e em bom som, que
"quem sai com viado é viado também!".
Atirada à queima roupa em um meio-dia parece mais um assassinato à liberdade de expressão do próprio querer de sair com quem desejar para não parecer viado. Ora, passou o tempo e a geração de quem se escondia entre becos e palavras codificadas para marcar encontros e expressar afeto pelo mesmo gênero. Os lugares escuros, fétidos, sigilosos ficaram para aqueles que andam armados com problemas sociais de autoaceitação e extremo julgamento da vida alheia.
Ao meio-dia, de qualquer dia, a fome bate à porta de homens e mulheres e ignora completamente os frequentadores das camas; a violência, por outro lado, assim como as criaturas armadas de palavras, escolhe lugar, cor, gênero e classe social, vitimando gays, pretos, periféricos, diferentes.
Ao meio-dia, igualzinho a esse, bocas semelhantes beijam-se, corpos chocam-se, espíritos se reconhecem.
Por que o sol, esse inclemente sol, queima a todos e a terra espera, pacientemente, o corpo de cada um para promover o ciclo bioquímico correspondente, independente de quem se beija, quem se chupa, de quantos gemidos são dados ou retidos durante a curta vida útil dos corpos.
Ouvi e nem olhei para o lado.
Sai pensando com quantas pessoas o pobre homem já saiu e com quantos gemidos ele se fez, ou não fez, a vida que tem hoje e que, pelo que notei, está perto do fim.
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