Comida de monstros
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Foto: Funerary relief. ca. 200–273. MET. |
"O infortúnio é múltiplo. A infelicidade, sobre a terra, multiforme."
Berenice
Edgar Allan Poe
Procuramos infelicidade em tudo o que nos cerca, até mesmo nos momentos de felicidade e tranquilidade, porque não sabemos lidar com estas duas facetas da vida. Fomos talhados para a agonia, para o trágico, o drama, as ruindades do cotidiano. Se algo nos vai bem logo procuramos um ponto sensível para sermos molestados por nosso próprio modus operandi de viver em estado de lágrimas.
Traições, palavras falsas e cruéis, pessoas a oprimir e sermos, por elas, oprimidos, escassez transformada em excesso - elementos de uma vida viciosa que nos espera a cada noite.
Somos seres mesquinhos com nossa própria alegria de bem estar e isso nos mata aos poucos, cada dia uma dose maior, cada hora um momento morto por nossas mãos assassinas de bons momentos. De repente isso é reflexo da doutrinação cristã que nos imprime à mente a ideia de que só em um futuro de revanchismo contra um tal mal podemos ser felizes ao lado de uma divindade; ou apenas seja o sistema capitalista que nos obriga a polir nossas correntes com soluções clareadoras compradas a duras penas. Seja como for, somos isso - seres adoradores da infelicidade.
Esse monstro da infelicidade se alimenta de nós e de tudo o que temos e não costuma deixar nada para depois e nem para nós. Nem mesmo a morte podemos desfrutar.
E isso somos nós - matéria-prima para monstros e nada mais.
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