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Solitariamente em boa companhia

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Só nas últimas 24h eu pedi ao zelador para olhar o meu chuveiro elétrico e desentupir o ralo do  banheiro, questionei a minha utilidade no trabalho, recusei ser trapaceado no mercado, corrigi o preço do quilo da goiaba na quitanda (o rapaz queria vender goiaba pelo preço da pêra), manifestei-me fervorosamente contra o racismo e o preconceito estrutural que querem manter sobre os Orixás, dormi, comi, defequei gostosamente, cuidei de mim, possui o corpo alheio, excluí aplicativos do meu aparelho móvel, comprei bolo e canjica (e comi), mandei mensagens que não serão respondidas logo, desisti de estudar a mais, estudei o suficiente, fofoquei, falei com pessoas que se interessam por mim e eu por elas, verifiquei textos esperando a publicação em revista, pensei em criar novos perfis com os mesmos nomes, pensei em ex-pessoas, imaginei cenários, interagi em lives,  assisti um filme... E mesmo assim não abri aplicativos de redes sociais para informar ao mundo a insignifican...

Sem perdão ao liberto

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Nem bem o comércio abriu as portas e o horário de trabalho começara e lá estávamos nós, reunidos em solene obrigação de desgraçados que não nasceram abastados - trabalhando ao som das correntes virtuais e do chicote da falta de privacidade de câmeras e microfones em todos os ambientes. Não bastasse isso, ainda tinha a infernação de ter que olhar para a novidade no outro e ter que acha-lo bonito com falsas expressões de admiração. Aprovar cada inutilidade que o outro faz é rebaixar-nos à mediocridade imperdoável. E isso, jamais. Embora a vida seja banal cotidianamente e tenha eventos desagradáveis dia sim e dia também, é demais ter que carregar o peso da nossa existência e a obrigação de aprovar, por convenção social, as banalidades alheias. Livrei-me do peso de amizades escabrosas, falsos amores, ilusões pobretanas, obrigações sociais.  Livrei-me de relações tóxicas (com a exceção da minha própria tóxica companhia) e dos subornos e ameaças cristãs. Livrei-me de tudo e d...

Um pobre em desabafo

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Caminhando por essas ruas em que gente da classe média não se digna a andar a pé, sinto o chão com os meus pés calçados em um tênis sem solado inviolado - quando chove sinto a água que entra e encharca a meia e quando o dia é pleno verão sinto o calor que se desprende do asfalto. Ouvindo o drama alheio sobre o preço da gasolina, penso que o meu almoço do mês inteiro poderia ser pago só com a parcela do carro alheio ou com o valor semanal do combustível. É a realidade de cada um que nos oprime em castas sociais em um país de pobres, de famintos e de mal-remunerados trabalhadores.  Tenho então a impressão de estar desperdiçando a minha vida durante as horas de um trabalho que me empobrece como indivíduo e que, simultaneamente, enriquece aqueles de casta superior. Tenho fome que nunca acaba.  Tenho cansaços que nunca cessam. Tenho desejos que existem apenas na utopia do sonho acordado. Tenho o não ter. E tudo isso é só o que tenho.

Expressões

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Fragmentos de textos autorais retirados deste blog. Os desenhos são de Gabriela Santos.