Crônica de uma vida insuficiente XVIII

Ilustração de Gabriela Santos. 




Tem dias ensolarados que servem unicamente para originar e fomentar a 
raiva pela humanidade, pela vida e tudo o mais que existe entre o presente, o passado e o futuro. 
Há quem diga que somos os responsáveis por nossos sentimentos e paixões e que não devemos nos deixar controlar por eles; que devemos amar a todos e a tudo a todo instante e que ser grato é uma obrigação.
Livros e livros de autoajuda e postagens em redes sociais tentam meter toda essa ladainha goela abaixo e ânus adentro de modo que nossos bofes adquiram em suas paredes vivas essas ideias.
Então, quando acordamos com a pá virada, embucetados pelos reveses da vida ou simplesmente de mau-humor, com os bofes inchados de ódio e o sangue fervente de ira, mandamos logo para a casa do caraio, com dois ou três "cabruncos", toda a ladainha de good vibes e expurgamos todo o descontentamento como o corpo expulsa o álcool durante a ressaca.
E deve ser assim, sempre. Porque ninguém vive nesse mundo, entre estúpidos e ignorantes, malévolos e mentirosos, sobrevivendo a cada baque, rindo como um possuído e achando tudo lindo, como se tivesse a visão distorcida de um caleidoscópio.
Vivemos e isso inclui expurgar paixões.
É preciso.
É necessário. 

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