Papel e Tinta
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Pintura: Greek Torso with Flowers. Henri Matisse. 1919. |
O amor vira letra desenhada em papel vulgar que, depois de dobrado, perde a forma e o tom. Esse papel deixa nos dedos as marcas dos poemas lidos, das prosas fantasiadas, das paixões anteriores. No envelope, com a folha de papel , embarcam também rostos desconhecidos, beijos de outros tempos, tardes telegrafadas, miragens diversas.
Até chegar aos olhos do destino muita água passa sob a ponte - muita água suja também.
O amor, em letras de tinta azul, fica sob pilhas de livros, guardando o perfume de outros tempos, as recordações de outras, os sentimentos de passadas eras. E lá, escondido, deixa os anos passar com a mesma calma e paciência co que fez presentes infantis, efêmeras lembranças.
E quem dirá, muitos anos depois, quando esse amor estiver de frente ao pelotão de fuzilamento da memória, que um dia viveu os tempos de paz?
E assim a tinta vai escorrendo entre empalidecimento do tempo, do amor não aproveitado. E assim morrem todos, até os amantes.
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