Apologia ao crime da vagareza
O Leoni vive cantando, lá no Youtube, que depois de carro e grana o futuro é andar a pé, mas continuar a andar. O Frejat tem aquela história de escolher um amor bom, daqueles para a vida toda. E o Nando Reis sabe de tantas coisas sobre Espatódea que acabou fazendo Sei.
Daí, o que resta para os pobres mortais sem voz e sem imaginação poética?
Sim, porque amor é aquela fantasia que alguns vivem por um tempo e que acaba caindo no abismo da perdição do ciúme (embora exista aqueles que o tempo de vida do amor é tão longo que a vida na terra é curta para tanto - e sim, existe); a poesia das pequenas nem sempre pode ser vista e a descrição, em melodia, palavras ou atos acabou sendo elitizada por todos os que dominam "a técnica e os padrões" (ressalvadas as exceções). E quando equalizamos os dois lados de reagentes acabamos vitimados de conceitos e estereótipos.
O amor, esse monstro vendido nas livrarias sob títulos melosos ou em lojas de souvenires, é aquele detalhe que escapa aos jardins, onde selfies são mais importantes que compainhas. A comida que devia ficar bonita na barriga agora tem que ser fotogênica. E tudo se resume a ter carro e grana, uma vez que com isso você, de acordo com as normas sociais vigentes, pode comprar o amor descrito por Frejat e saber de muitas coisas como Nando Reis.
No frigir dos ovos, em uma sexta-feira como essa, chuvosa, nem tão fria nem tão quente, o certo mesmo é jogar um balde de água fria nos conselhos desses cantores doidos e cair preguiçosamente onde puder por que quando a bateria acabar o que vai ficar são as lembranças e os planos, que nos elevam ao patamar de sonhadores, e igualmente doidos, do mundo da imaginação, onde todos são o que bem entender, inclusive nada.
E não ser nada, assim como não ter deus nenhum é ter um deus, é ser alguma coisa.
O que buscamos, ou deixamos para depois, é somente escrever uma boa poesia, uma carta decente (ainda que via e-mail) e ter a resposta adequada - não no imediatismo do wifi, não na agonia do ciúme, não no desespero dos acordes de violão. Mas na calma e na paz da surpresa.
E é isso que toda sexta-feira pode ter. O que deve ter se você, nós, for capaz de ir com calma.
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