Os abortos já foram perdoados

O Monarca, Chefe de Estado e líder religioso mais famoso do planeta resolveu exercer seu poder e estabelecer o "ano santo", concedendo perdão a todas as mulheres que fizeram aborto. 
E quem disse que as mulheres precisam dessa indulgência para serem perdoadas? Quem precisa do perdão de qualquer igreja?
Resposta simples e direta: ninguém.
As mulheres abortam e não precisam de perdão de nenhuma instituição. Elas o fazem por necessidade ou por egoísmo, cada uma com seus motivos e situações (inquestionáveis por quem quer que seja).
E o único perdão de que precisam é somente dos Deuses (e não apenas do hebraico), se Eles existirem. 
Sou a favor do aborto pelo fato simples de que a interrupção da gravidez é saída para o jugo de violência e pobreza que caracteriza uma parcela expressiva da população mundial ( quantas crianças perambulam sujas e analfabetas por vielas e favelas? Quantas são cordeiros no abatedouro da " Casa de Deus" pedofilia?); é saída para as mulheres violentadas física e emocionalmente por companheiros e homens desconhecidos (quem as livrará do trauma? Um "ano do esquecimento"?); é saída para uma vida melhor para os próprios abortados, cuja única vida possível, na maioria dos casos, é uma subvida, marginalizada, onde nem Deus, nem o Diabo, nem qualquer igreja ajuda na luta para superar cada dia.
Dizem, inclusive os Direitos Humanos, que o aborto é crime. Mas não é crime ( e nenhum engomadinho sai do seu conforto do ar-condicionado para ver na prática o que só defende na teoria) crianças purulentas que vagueiam nos faróis; crianças que nascem sob o efeito vitalício das drogas; crianças marcadas pelas agressões impressas em suas mães; crianças famintas e desnutridas; crianças cujo único futuro é engrossar as fileiras do tráfico, dos doentes e dos miseráveis. E quando alguém aponta essas crianças os Direitos Humanos vira o rosto, a Igreja finge não ver e a sociedade escolhe o caminho fácil do esquecimento.
Quando se trata do aborto nem os Deuses e nem o Diabo devem meter o pitaco. Só a mulher, e somente ela, deve decidir, pois quem conviverá com a dor, qualquer que seja, é ela.
E ninguém tem nada com isso - nem mesmo o Papa mais bonzinho.
O "ano santo" é ridículo por que a mulher passa pelo processo de arrependimento, ou não, no seu próprio tempo e o recebe quando ela, inclusive, se perdoa.
As perdoáveis seram perdoadas. Os não-nascidos e os natimortos poderão, como prega o espiritismo, nascer em outra oportunidade. 
O que não podemos, jamais, é continuar alimentando o reino do medo sobre um mundo que ninguém nunca voltou para contar como é. 
Eu, de minha parte, dispenso oferendas, rituais dominicais e a capa do medo. Não me elejam divino, mas o pseudocrime do aborto não existe no meu reino dos céus, quando eu terminar de construí-lo.




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