Entrevista com Letícia Wierzchowski
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Foto: Rede Social de Letícia |
Hoje eu converso com uma gaúcha que ganhou a casa dos brasileiros e o
mundo com obras memoráveis. Letícia Wierzchowski é a premiada autora do
best-seller A Casa das Sete Mulheres e Sal. Letícia conversa sobre suas experiências
literárias, sobre seus livros e nos brinda sua opinião sobre mercado literário
e dificuldades de publicação.
“Leticia
faz parte de uma nova geração de escritoras brasileiras que dá seu recado com
competência, coragem e emoção”
Moacyr Scliar
Rafael Rodrigo Marajá: Sua
formação seria Arquitetura. Acredita que os cursos de ciências exatas são bons
produtores de escritores, pela sequidão recorrente dos números?
Leticia Wierzchowski: Olha, eu
passei pela Arquitetura com a cabeça em outra coisa... Sempre fui muito
criativa, inventando cenas e personagens, e, na Arquitetura, que é um caminho
lindo e também criativo, durante um bom tempo, me senti esmagada pelas cadeiras
de cálculo, porque, claro, se começa do mini pro macro, e eu já queria sair
sonhando casas.
Só posso falar por mim, mas não
acho que alguém com
tendências literárias precise primeiro ser testado por um universo matemático.
Muitas coisas fazem com que uma pessoa comece a escrever, e as experiências
pessoais também contam.
R.R.M.: Quando vivemos somos
passíveis a mudanças repentinas. Qual a maior mudança repentina que já
aconteceu em sua vida e que influenciou um livro?
Leticia: Que influenciou vários
livros: a maternidade. Porque a maternidade é uma mudança repentina. Nove meses
não contam nada, conta quando aquela criança surge, intacta, incrível, e a vida
muda de cabeça pra baixo.
R.R.M.: Escrever é uma arte que
requer experiências e deixa de ser arte para ser confidências em certos
momentos. Dentre suas obras, qual a que mais contém momentos e sentimentos
seus?
Leticia: Todas contém momentos e
sentimentos meus, liquefeitos, transformados nas reações e momentos dos
personagens. Eu gosto de inventar, de criar personagens, mas eles saem de mim e
levam essa marca indelével.
R.R.M.: É autora de A Casa das Sete Mulheres (2002), adaptada para a TV. Como foi essa
experiência? Ela correspondeu às suas expectativas?
Leticia: Eu não esperava, na
época, que aquele livro - tão histórico - fosse parar na TV. Mas foi e, a
partir daí, tudo era inesperado.
Como experiência pessoal, me
amadureceu muito. Fazer sucesso é bom, leitores, dinheiro que entra, mas a
exposição também assusta, e as críticas são tantas quantos os elogios. É
preciso aprender a andar paralelamente a tudo isso - crítica e elogio.
R.R.M.: A reação do público foi
a que esperava?
Leticia: Como eu disse, eu não
esperava nada, era tudo tão inesperado! Mas foi um sucesso de público e isso,
claro, me deixou feliz.
R.R.M.: O que mais a incomoda
no mercado literário brasileiro?
Leticia: Nossa, sei lá. Tenho as
minhas reclamações, mas elas são pontuais. Tenho os meus ressentimentos, mas
eles são pessoais. Eu escrevo porque gosto e preciso e, com a coisa escrita,
publico. É muito orgânico, e tento fazer o melhor possível com o meu trabalho.
Quanto ao mercado, eu penso mais é nos meus parceiros, editoras, editor e
agente.
R.R.M.: Em livrarias, os livros
nacionais nem sempre ganham o destaque merecido, talvez por não possuírem a
“Best-Seller do The New York Times” na capa. O problema para uma não adesão
maior dos brasileiros seria esse modismo importado?
Leticia: O mundo hoje é
globalizado, e os EUA são uma máquina de sucessos. Se eu estivesse vivendo lá à
época da A casa das 7, e tudo tivesse acontecido lá, estaria rica pra sempre.
Mas acredito no leitor sutil, e temos um mercado enorme, que tem as suas
peculiaridades a despeito desse perfil dos best-sellers internacionais. É
possível surfar essa onda sim.
R.R.M.: Escritor brasileiro
sofre com as dificuldades em publicar suas obras, ou a primeira. Como foi sua
inserção no mundo dos publicados?
Leticia: Foi difícil. Faz tanto
tempo já. Mas tentei muito, muito mesmo. Acabei ganhando um edital em Porto
Alegre, e uma editora que me disse não no primeiro momento, recebeu a grana do
edital e publicou o livro sem correr riscos financeiros. Meu primeiro romance,
O anjo e o resto de nós, foi ele o primeiro passo, em 1998.
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Foto: Rede Social de Letícia |
R.R.M.: O Anjo e o Resto de Nós (1998) é sua obra de estreia. O que você
expressou nele que não voltaria a fazê-lo?
Leticia: Eu queria voltar a
fazê-lo muitas vezes, na verdade. Adoro esse livro em muitos aspectos, uma
alegria, uma inocência, e um humor que queria reencontrar.
R.R.M.: Existem pessoas que são
autores, outros contadores de histórias, e há ainda aqueles que são os dois.
Como você se vê: autora, contadora de histórias ou os dois?
Leticia: Não entendo muito essa
diferenciação que você faz... Eu sempre me digo uma contadora, porque respeito
as histórias, elas merecem o meu louvor, elas me guiam. Dançamos juntos, as
histórias e eu.
R.R.M.: Sal (2013) é seu último romance – também destaque aqui no blog – e leva o leitor a
um mundo onde a narrativa se adensa por conter outra narrativa dentro, sem
perder a leveza literária. Quando aconteceu o time que fez o surgir?
Leticia: É um livro que eu gosto
muito, e que tem várias histórias dentro. Não sei bem quando aconteceu, ele foi
se desdobrando, se desdobrando, e nasceu. Não sou muito cerebral na hora de
escrever, sou mais orgânica. Vou montando a história. Mas eu queria usar duas
figuras de linguagem: a escritora pensando a história, e a tecelã que tece a
sua obra. Acho que ambos os jeitos são maneiras de contar alguma coisa.
R.R.M.: As críticas sobre ele
foram as esperadas ou se decepcionou um pouco?
Leticia: Sei lá. Tive um
excelente retorno dos leitores, isso sim. Não vejo muita crítica por aqui, o
que acontece mais são matérias de lançamento quando o livro entra nas
livrarias, com raras opiniões de críticos. Independentemente de qualquer coisa,
gosto muito de SAL, e foi muito bom escrevê-lo.
R.R.M.: Sua mensagem para
leitores, admiradores e novos autores é...
Leticia: Leiam.
Letícia, muitíssimo obrigado
pela conversa, pelo seu tempo e sinta-se sempre muito bem-vinda em Crônicas!.
Foi um prazer conhecê-la.
Essa entrevista foi concedida por e-mail.
Essa entrevista foi concedida por e-mail.
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