Imprecisões naturais da vida
Comecei o dia comendo um sonho. Agora dos outros porque não tenho mais sonhos. Os meus ficaram presos nos cactos das áridas caminhadas que fui obrigado a fazer nos últimos anos - um dia desses eu me descobri sem prazer em pequenas rotinas que antes eram tão satisfatórias; o sexo tornou-se tão banal (será por causa da facilidade e da oferta?); a comida restringiu-se ao seu papel de fonte de energia... Na minha taça, como ontem, antes das sete horas da manhã, coca-cola. Na minha cabeça, Raul Seixas cantando. Na minha mão, uma dor que surgiu depois de um sexo em má posição de semanas atrás. Hoje eu não tenho lugar. Não tenho planos. Não tenho mais pressa. Hoje eu estou apenas esperando o milagre das imprecisões naturais da vida.