A suavidade da chuva outonal

 Abro a porta e vejo a linda luz de início da manhã cintilar nas gotas de chuva outonal. Não está frio e tomo uma coca-cola (porque a vida é breve e pobre morre cedo de qualquer coisa mesmo). Inspirado, coloco no reprodutor Chove Chuva na versão do Biquíni Cavadão. Os problemas solucionáveis e pueris estão embaixo da pia, a espreitar-me, rancorosos porque resolvi não lhes dar atenção. 

A chuva está sensível, meiga, como Oyá em tempos de paz. 

Eu estou acordado desde a madrugada, sem percepções entorpecidas, sem sonhos insolentes, sem sono naturalmente esperado. Todos os que não precisam trabalhar estão em casa, abrigados, agasalhados. Meu vizinho, mão de obra barata da construção civil, saiu cedo quando a chuva era uma pausa em mais uma manhã.  Daqui a pouco os garis irão despontar na esquina recolhendo os resíduos sólidos urbanos de uma centena de gente que sequer valoriza o fato de a rua ser limpa sob chuva em uma manhã como essa. 

Essa chuva me lembra Ela, Oyá. Sempre de ronda, ela cuida dos seus, dos guerreiros e guerreiras, cortando o céu com seus raios, sempre audaz e delicada, um paradoxo de energia e suavidade. 

O dia está começando. Só começando.

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