Crônica de uma espera

 Ontem o céu rugiu. Parecia um leão que não sabia se dormitava ou acordava de vez para rondar o território da caça. Nuvens de chumbo precipitavam-se em momentos inesperados. Para além disso, nada.

Nas cidades do interior ruas inteiras com feiras livres. Na capital, os shoppings. Na rodovia que faz esquina com a rua uma corrida anual se desenrolava. 

Entre paredes nada disso importa - novos demônios subjugando antigos fantasmas, vergonhas diversas dentro dos bolsos, olhos cansados e boca cerrada pelo peso de uma vida errante. Entre as paredes ouve-se os pingos da chuva, o rugido do leão celeste, o silêncio na casa vizinha, a vida desgraçada que se leva por força das circunstâncias.

Hoje o céu está limpo e vidas diferentes interagem entre si no outro lado da parede.

Deste lado não há vida. Apenas uma espera que nunca acaba.  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá