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O deus-monstro

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Young Sailor II. Henri Matisse. Met. Se você olhar com atenção, com bastante atenção, vai acabar descobrindo o monstro que habita em você e que confraterniza com o deus interior que carrega. O monstro e o deus beijam-se todas as manhãs, discutem sobre a inocência ou a culpa dos afetos e desafetos, destroem e constroem sonhos e ilusões. Digladiam-se. Amam-se. E o torna um ser deplorável, abjeto e cruel algumas vezes, enquanto que em outras o torna o anjo que habita no mais alto céu. Não é uma questão de escolha e a psicologia adora estudar e observar isso nas pessoas. As igrejas, habitadas por monstros de dentes afiados, tentam convertê-los em santos glorificados capazes de habitar nos altares limpos de tantos edifícios - sem sucesso, pelo que se pode avaliar. Você é um deus, um demônio, um humano, uma ilusão. Você é o problema e a solução. A decisão, o que mais importa nessa "jornada da vida", é se você quer realmente conhecer a si mesmo. A decisão é: tem ...

As leis do interior

Em cidades interioranas a classe média são os pobres concursados ou que possuem lojas no centro comercial da cidade e que se segregaram dos iguais apenas pelo esnobismo.  Essa classe média possui todas as características e hábitos dos pobres sem que se assuma a pobreza mascarada de riqueza porque no interior leis sociais próprias regem o preconceito sobre o pobre e o "rico" e o equilíbrio dos eventos sociais. É por isso que acreditam que ir à capital é o ápice midiático. E casar uma filha com alguém da capital? O sétimo céu para os silvícolas. No governo petista esses pobres ascendentes adquiriram o status de classe média e o costume com as novas "facilidades" fez com que Jair Bolsonaro, que ameaça esse status, fosse esmagadoramente eleito. A "classe média" que jamais compra nada à vista e não valoriza a cultura é o exemplo que ilustra o ostracismo e o atraso do interior de estados como Alagoas - uma decadência que anuncia o retrocesso.

O ballet hilário

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Foto: arquivo pessoal. Os eventos natalinos na terra indígena da mesorregião alagoana estão surgindo revelando acontecimentos hilários e desastrosos nas mais diversas apresentações. Na apresentação da noite passada, no  Ginásio do Centro Educacional Cristo Redentor, o ballet à Palmeira dos Índios foi uma dessincronia tolerável, considerando a idade das bailarinas, e uma decepção logística claramente oriunda da improvisação e da "comprometimento" com o sucesso organizacional. À parte a vergonha alheia, a "família tradicional" teve a oportunidade de prestigiar crianças e adolescentes em plena superação física e natalina.  Como ja já tocará nas rádios, "então é natal e o que você fez (...)"  será uma série de risos, se prestigiou esses eventos natalinos palmeiríndios, ou de mesmice, se nada fez de diferente além de esperar pelos shows da Globo. *Fotos e vídeos do arquivo pessoal.

Paladar oriental

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Foto: arquivo pessoal A ideia surgiu assistindo os desenhos animados na TV aberta e ficou. Persistiu e resistiu aos anos e às vicissitudes da infância e aos dramas da puberdade. E quando finalmente pode ser expressado ainda passava as reprises de A Usurpadora.  Foi assim que a comida japonesa tornou-se uma fixação - um sonho de consumo - no imaginário de quem fantasiou e acrescentou sabores e cores, até, de uma forma obscenamente deliciosos. De repente, nas vielas da terra indígena, surgiu quem oferecesse comida japonesa a preços nada amigáveis. O shopping instalado em Arapiraca, com vídeos repetitivos, também instigava o desejo e a dúvida - será que presta mesmo? Dia sim, noites não, lá estava a ideia e o contato do delivery.  Ligou, perguntou, assustou-se com o preço e pediu. A espera. A demora. A dúvida. Quentinha, a bandeja foi entregue, paga e aberta como quem abre o Santo Graal da gastronomia fantástica.  Comeu. E foi a experiência mais desag...

Novíssimo rico

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Quando você passa uma parte considerável da vida abaixo da linha da pobreza e, de repente, vira um novo rico a primeira coisa que se faz é experimentar a vida dos velhos ricos.  Você veste o que eles vestem e não gosta, pelo desconforto, pela breguice ou simplesmente porque, uma vez que se é rico, dá para ditar a própria moda. Você frequenta os lugares que eles frequentam e vê que é um desperdício de tempo e dinheiro visitar lugares inférteis - em sua maioria. E, por último e não menos importante, você come o que eles comem e percebe que a comida dos velhos ricos é uma porcaria cara que só serve para tirar fotos para as redes sociais - é plástica, supérflua e pouco saudável. Como novo rico, passado o impacto do montante na conta e superado o trauma de pobre - que só pensa em dívidas e em fugir dos credores - chega-se à fase de criar o próprio conceito de "rico" (que é, também, ter dinheiro, estilo e convicção sobre os próprios gostos). Ser um novo rico é óti...

Um tic de agonia

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Óleo sobre tela: The Potato Peeler. Van Gogh. O mundo dos espertinhos vê vantagem em errar no troco, em gritar e chorar para conseguir o que almeja e em ignorar quando outrem decide acabar de vez com o sofrimento mundano, ainda que crível diminuto pela arrogância dos grandes problemas. Esse mesmo mundo que prega a fé em um Jesus Cristo, cada seita reivindicando a verdade absoluta sobre essa divindade, ignora que irmãos precisam de carona para a adoração dominical e nega ajuda a quem precisa simplesmente por falta de publicidade. Entre um drama e outro, chafurdando em exigências religiosas e sociais, um a um vai caindo de uma ponte, ou ingerindo veneno ou cortando os pulsos sem que ninguém, por mais amor que declare, aos homens ou a deuses, tome a atitude de investigar mortes gratuitas de uma população agonizante.

Natal Branco

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O Caminhos da Universidade sacolejava, na barulheira do motor antigo de sempre, ao entrar na cidade. Parou no posto três irmãos e seguiu a rotina para deixar os universitários mais perto de casa quando, de súbito, a SMTT indica um desvio na rota. A Vieira de Brito, interditada, deixava claro que um acidente ou um evento estava acontecendo ali. O ônibus entra na 20 de agosto, sobe na 15 de novembro e em pouco tempo a rota era retomada. E tudo poderia ter terminado nesse ponto, onde todos seguiriam a rotina de sempre, na sexta-feira negra do varejo. No entanto, os poucos metros interditados na Vieira de Brito guardavam o que desconto nenhum poderia comprar - um sonho, muita boa vontade e um exemplo de união. Dezenove comerciantes unidos realizavam o Natal Branco, sob a batuta da Marta do Bolo, que idealizou o evento e realizou, em 2017, a primeira edição do que se tornaria o I Natal dos Comerciantes neste ano.  Lojas abertas e decoradas, um palco e brinquedos para...