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Sentimento do ser

O sentimento é independente. Uma reação autômata que, às vezes, se transforma em ações. E que não precisa nada além de um estado de espírito capaz de modificar a visão que se tem do mundo, sem, necessariamente, mudá-lo. É por isso que parece absurdo exigir demonstrações tangíveis de algo que não se pode mensurar. E é absurda a busca que alguns empreendem para encontrar o sentimento empacotado em embalagens de 200g, vendido em lojas sujas do centro da cidade. O sentimento, embalado a vácuo ou por pessoas de mãos sujas, vendidos em lojas populares ou recebidos de pessoas mesquinhas, continua sendo o mesmo sentimento inalcançável que seres tão esperançosos buscam no vazio de filosofias ingratas. O sentimento é só o sentimento, sem aspas, sem contra-argumentos, sem ações reativas.

A podridão que nos cerca

A religião geralmente esconde a podridão da sociedade. Por meio dela temos as justificativas para toda e qualquer atrocidade que se faça, porque é tudo em nome de uma divindade que nunca aparece, mesmo quando reinvidica a autoria do mundo e de tudo o que é bom. Filiado à uma organização religiosa, estudei a doutrina, e acredito nela, e observei o comportamento dos membros e líderes. Testemunhei e sofri agressões físicas e morais, testemunhei o acobertamento de agressões sexuais e a exploração da força de trabalho dos membros de boa vontade. Testemunhei a forma humilhante com que os verdadeiramente pobres são tratados e como a segregação e a acepção de pessoas é nefasta, ainda mais porque se usa o nome de um Deus omisso. E tudo sob a observação e anuência de líderes que misturam Igreja e Política, que visam mais a aparência em detrimento dos ensinamentos de Jesus Cristo. Líderes que se amontoam em facções para manter o domínio injusto e maléfico sobre os membros. E embora exis...

De volta à baia

Chegamos ao fim de um processo eleitoral que se aproximou da barbárie e que, por pouco, não dizimou até a religião, que tão hipocritamente o brasileiro diz seguir (independe do credo). Em Alagoas testemunhei o hilário e o extraordinário. Candidatos que pleiteavam, no primeiro turno, uma cadeira na Assembleia Legislativa foram os mais absurdamente inovadores - muitos que sequer saíram de suas casas para fazer campanha conseguiram, ninguém sabe como, a oportunidade. Outros, tão acostumados a vitória, viram seu domínio ruir, mesmo com a compra de votos. Houve quem subisse em carro popular, copiando candidatos de outrora, para pedir voto e parar o trânsito - e mesmo com todo o esforço, sequer passou perto dos mil votos. A Assembleia Legislativa teve um alto índice de nomes novos - uma aparente renovação, dizem os mais críticos. Quem ganhou com isso foram os prefeitos, como de Palmeira dos Índios e Quebrangulo, que tiverem seus deputados estaduais eleitos e seu poder político aumentad...

Ninguém salva o Brasil de si

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Portrait of the Artist. Mary Cassatt. Met. Olhando a onda que se espalhou pelo país, e que é tão costumeira no processo eleitoral de um povo que resiste ao processo educacional civilizatório, há que sorrir da ironia do eleitores frente às ideologias dos partidos e às "propostas" dos presidenciáveis. À parte as agressões, reais e inegáveis, dos bolsominions contra minorias e a latente apologia à tortura e à ditadura; e igualmente desconsiderando os petistas fanáticos, tem-se um drama violento que se desenrola nas ruas, nas igrejas e nos domicílios, onde ninguém sai vencedor, a despeito do resultado do pleito. Foi observando essas anomalias que chego à conclusão que uma parte dos gays enrustidos continuarão cometendo suicídio e aumentando os casos de depressão registrados no sistema de saúde. E isso pela simples razão de que eles acreditam que estar enrustido, suprimindo seus desejos em uma organização religiosa (pensando que vai para um pseudo céu) e aplaudindo dis...

A exaltação do homem comum

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Exaltation. Arthur B. Davies. Metmuseum. O correr da vida passa pelo sururu de Alagoas, espalhado por todo um estado, mesclando-se a sabores, cores e divergências da casa ensebada do pobre que faz festa pelo novo diminuto que surge como um bálsamo para as agruras de uma existência infeliz; ou do novo rico, que acredita que o sensato é defender o horror e o ódio de um "movimento" que quer obrigar a democracia a se retirar depois de poucos anos de sossego. Passando pelas ruas à beira mar, ou à beira da lagoa, ou à beira do rio, recordando os versos de Jorge de Lima, a vida parece mais singular, indo de uma tristeza sutil a um conformismo sem tamanho de um povo que não teme mais nada, nem mesmo um Deus, morto há tempos, nem mesmo um Diabo, que parece habitar somente o fundo da panela, o sertão, a ponta do lápis. O dia, a vida, as esperanças, as tristezas, a beleza. Tudo vai escorrendo entre lembranças e desejos insatisfeitos. E o homem, só carne, ossos e sentimento...

Uma barbárie eletiva

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Head of a ruler. Metmuseum. Estamos em plena barbárie. Não debatemos mais ideias, planos ou propostas de candidatos ao Palácio do Planalto. Agora nós nos agredimos. Passamos ao esfaqueamento de candidato, superamos as velhas táticas de propagar mentiras e passamos a produzir um estado dominado pelo terror, pelo medo, pelo bloqueio do diálogo. A que ponto chegaremos nós quando concluirmos que a ilusão que criamos não pode existir e que, no fim, amigos ou não, estamos dentro do mesmo barco? Onde estará a divisão violenta que ora produzimos e fomentamos quando a inflação bater à nossa porta, ameaçando o nosso almoço? O que faremos quando a violência física e moral que infligimos ao outro voltar-se, sedenta, contra nós, exigindo a paga pelo trabalho feito?

Carta aberta

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