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O novo motel de Palmeira dos Índios

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O novo motel de Palmeira dos Índios é um mix entre Drive-in e "cidade baixa". Drive-in porque nem sempre se tem pessoas transando e tem sempre algo para olhar pelo para-brisa  e "cidade baixa" porque, como dizem por aí, no chão até vai, mas no mato? A localização é ótima - próximo ao centro, amplo, bem arejado e a privacidade é variável, esta dependendo sempre do horário em que se deseja fornicar. Você pode escolher se prefere uma superfície inclinada ou ser um pouco mais animalesco e preferir ficar envolto em um vegetação rústica. No inverno, o barulho da água passando pode ser um diferencial. No verão, a brisa que adentra no carro ou o envolve na moto pode ser um refresco muito bem vindo depois de intensos movimentos. Pensado originalmente para ser uma área residencial, o novíssimo e natural motel em voga na cidade não cobra taxas e, para quem passar um dia ou outro à noite, poderá ouvir de gemidos de amor a discussões acaloradas; de carros um tanto ultra...

Não é tudo isso

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Arte: Pygmalion and Galatea. Auguste Rodin. Metmuseum. Não demora e a gente sempre volta ao mesmo tema e, com uma leve variação de personagens e psiquês, à mesma medida de enredo: A ama B, C ama B, D ama B, e B não ama ninguém porque B não está procurando amar ninguém, apenas viver o hoje como se não houvesse amanhã. Mas ninguém entende a equação simples que é o desinteresse por essa história de amar. Também ninguém acerta a medida de não-amor - ou partem para direto para a homossexualidade ou para o sexo escrachado.  E aí, quando uns choram, outros experimentam uma dose a mais de álcool e o ridículo torna-se pedra angular de uma vida tacanha, o acanhamento faz-se presente como peça de um quebra-cabeça que nem deveria existir. Descomplica! O amor não é essa coisa toda que falam. Aposto até que você só o alcança quando não pensa, não o procura e não o define. 

Curvas

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Imagem do Pinterest Essa curvas também abrigam o desejo, a luxúria e a delicadeza. Esses seus vales, por vezes tão profundos e às vezes tão rasos, escondem incertezas que nos une em noites frias, de terror ou efêmero temor, e nos separa em manhãs de verão à beira-mar. Teu corpo, papel de toda cor, é desejo, amor e fumaça. Não seria certo, dentre tão poucas certezas, que deixássemos teus olhos mirando só o agora quando o futuro demora tão pouco para chegar. Não seria justo que nos deixássemos tão justos em roupas de ontem, em distâncias de outros, em corpos multicoloridos que já se foram. Então veste um jeans, calça um All Star azul, prende os cabelos com óculos de sol e deixa que o tempo role nessas curvas – deixa que o tempo envelheça no seu caminhar entre os lagos. E quando sentar, para admirar o mar da Atalaia, não esquece que é o agora, viajante de maresia, que abraça essas suas tão perigosas curvas.

Casamento

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Quadro: Odalisque. Benjamin-Cosntant.  Uma manhã dessas ela chegou e disse “vou me casar”, como se estivesse dizendo que ia à  padaria comprar sonhos. Desferiu-me um casamento a queima-roupa sem dó nem piedade. Seus olhos brilhavam de contentamento ao me fazer entrar em choque. Divertia-se ao debochar da situação, do ridículo que provocou ao colocar mais um em uma história de vários. Mas a alegria efêmera deu lugar à dura realidade quando o pano de fundo caiu, o divertimento passou e o casamento restou. “O que eu faço?”, quis ela saber em meio a lágrimas e incertezas. “Case”. Ela casou, vestida de branco, arrependida, esperando até o último instante para ser salva da própria armadilha. Ninguém a salvou. E competentemente casada, infeliz, arrastando as pesadas correntes da imaginação de um futuro que poderia ter acontecido, entrega-se a paixões diversas. Dia desses, ela disse, ela fecha as portas, abre o gás e toma um vinho. Dia desses, ela disse, ela faz mesmo. ...

A morte do Bumbum

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Foto: Truman Capote. Irving Penn. 1948 E lá ia o Bumbum Guloso, sob a chuva, desviando-se das poças de lama, para a academia. Com a matrícula ainda recente no novo point do corpo, do suor e do prazer, Bumbum Guloso ainda não tinha se adaptado à dobradinha exercícios-cantadas. Ainda com insatisfação pelo bumbum que não crescia, lá ia agachando. Aliás, agachamento era o que não faltava em sua vida. Agachava no trabalho para os impúberes, agachava em casa para o residente, agachava na academia tão logo alguém chamasse. E apesar de tudo a insatisfação continuava ali, martelando – seu bumbum não crescia, não importava o que fizesse. E a concorrência bundástica sempre acirrada, sempre imperdoável. Bumbum Guloso então foi mudando de academia, de instrutores, de alimentação e nada acontecia. Um dia, Bumbum Guloso, na hora fatídica do agachamento de 90kg com o residente, resolveu, orgulhoso, perguntar-lhe sobre o seu desempenho e o seu bumbum turbinado. Ao ouvir, mais uma vez, uma n...

A bêbada desequilibrada

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Foto: Man Lighting Girl's Cigarette (Jean Patchett). Irving Penn. E lá vinha eu, pela turbulenta avenida Alagoas, que agora até de nome mudou, já noite adentro, em um frio domingo típico de Palmeira dos Índios, quando uma bêbada, do outro lado da rua, gritou em minha direção, desfechando em meu peito a milagrosa coincidência do destino de colocar-me diante dela, inesperadamente, para lembrar-lhe de seu amigo, já morto e competentemente morto. Parado, olhando-a sem espanto, em estado de náusea pelo cheiro de bebida e tabaco, estava eu impedido de seguir adiante para não ofender a ilustre memória do defunto desconhecido. Ela quis amizade de verdade - de verdade mesmo, como bem enfatizou diversas vezes - e eu não queria nem o primeiro abraço, imagine o contatinho. A bêbada, cujo endereço eu já tinha conhecimento e agora tento não ser visto sempre que passo próximo à casa dela, teve uma noite feliz depois de rever o amigo morto em mim. Eu, de minha parte chata, só fiquei ab...

A bebida bordô

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Arte: In a Courtyard, Targier. Philippe Pavy. 1886. "El amor es como el vino. A veces nos reconforta. A veces nos destroza". Stefan Zweig Acostumamos tanto a perverter os fatos que quando deparamo-nos com a triste realidade da não reciprocidade de sentimentos acreditamos, fortemente, que é romântico ser atingido por xingamentos e a toda sorte de agressões pela pessoa amada. A regra é, claríssima, é que se na foto todos parecerem felizes e amados, então tudo vai bem. Uma engano comum e tão corriqueiro que passou a ser aceito como padrão em relacionamentos - amistosos e amorosos. A obrigação de amar tira a graça da coisa. A necessidade de estar com alguém leva-nos ao desespero. O amor, nesses tempos sombrios, tem nos levado à beira da loucura e somente nós, individualmente, pode salvar a si mesmo do monstro devorador da autoestima, do amor próprio e de um futuro  - da promessa de um futuro. O amor é vinho nas regiões frias, cachaça na aridez do...