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Você é só pobre

Você é pobre! Um mero e descartável capacho do sistema produtivo capitalista que o coloca dentro de um conceito hermético de indivíduo, onde nem mesmo cabe a si.  E aí está você, rolando infinitamente a tela do seu smartphone , nunca o aparelho adequado, jamais localizado onde gostaria e em uma rotina capaz de suprir apenas as necessidades de uma Organização e de um fluxo produtivo pensado para satisfazer os desejos dos ricos, não sua mera expectativa de viver.  Aliás, pobre como você é, crê ainda que vivendo em uma região metropolitana, respirando o ar poluído continuamente expelido por automóveis, fábricas e cigarros, comendo fast-food e vestindo andrajos que simulam marcas reconhecidas na Fashion Week   chegará em algum lugar. Só não se tocou ainda que quando precisa de atendimento hospitalar precisa enfrentar longas filas, habitadas por outros tantos pobres que reconhecem que a caminhada pela selva de concreto e asfalto não leva a lugar algum, e quando precisa ser at...

A maldição do crente

 Em uma conversa via aplicativos de mensagens instantâneas eu disse De todas as coisas pra se ter em casa, o crente é a pior delas A fome, a peste, a pobreza, as maledicências, o mau gosto, a breguice, a ignorância, as doenças mentais, as brigas, os relacionamentos falidos, os suicídios... tudo isso e mais um pouco são unidos pelo laço da palavra de um deus ficcional e encarnados na figura de um crente. Sempre que ficam com bateria baixa eles vão às suas portas comerciais de preferência, enchem-se de uma palavra nefasta e saem às ruas envergonhando a todos com suas aparências deprimentes e suas palavras vãs oriundas de uma interpretação torta daquele livro ensebado que carregam.  Não cu que não reparem. Não há embocetamento que não estejam no meio comentando.  E nada há o que fazer, por enquanto, do que tentar conscientizar as novas gerações do fracasso que esses crentes representam e da ameaça latente que efetivam sempre que podem.  A casa em que habita um crente ne...

A misoginia - uma superfície

 A misoginia tem raízes cotidianas. Insinua-se em pequenos desentendimentos no trânsito, no trabalho doméstico e na formação educacional. Vai tomando forma com discussões acaloradas e sedimenta-se no comportamento geral de ambos os lados. Sempre esteve presente e continuará sob novas formas e novas roupagens até que se entenda que a questão do ódio sedimentado não é uma questão de gênero, mas da espécie. Questão de dominação, o homem busca seu domínio sobre homens, mulheres, crianças. O branco busca manter seu domínio sobre o preto, o branco, o amarelo, o cafuço e os demais. O hétero busca manter sua hegemonia sobre o gay, o bissexual, o transsexual, o travesti e as demais siglas. É sobre poder. Nunca foi sobre representatividade. Sob esse manto, há questões como a misoginia, que vê a superfície e jamais atinge a profundidade, seja por incompetência estrutural dos debatedores, seja pelo plano político que se desenrola no governo dos países a partir das comunidades. A utopia de um m...

Blasé

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Lá fora chove lágrimas de famintos que trabalham diariamente em ocupações blasfemas. Lágrimas de quem não pode comer bem para não ofender ao patrão. Chove gotas de sangue de favelados, de pretos, de pobres, de não-héteros, de mão-de-obra barata, de gente. Sangue que lava ruas sem saneamento básico e o chão de supermercados erguidos para a pseudo classe média. Lá fora tem a bebida, o sexo, a droga ilícita.  Lá fora tem a vida.

Sempre agrestes

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Foto: Rafael Rodrigo Marajá.  Meu bem, paisagens agrestes sempre lembrarão os dias de agosto quando um sol quente era abrandando pelo sopro frio das serras em terras tão distantes, embora igualmente agrestinas. Vi cactos espalhados e rebanhos pastando sem pressa.  Vi casas lindamente danificadas pelo tempo e que se mantém de pé por obra e graça da resistência que habita em seus moradores. Vi cidades de nomes estranhos e povos de olhares questionadores - somente o literalismo que em mim defeitua pode explicar a beleza irracional disso. Vi tudo isso. E sei que você viu também, nos dias em que fugia buscando o novo por essas bandas. E nem mesmo o tempo e a distância entre esse nordeste do nordeste e a Baía de Todos os Santos podem tirar palavras gravadas a ferro e fogo do intangível livro dessa existência - por isso estamos também aqui, e aí. Ora veja, fiz contas erradas e me senti em casa e confortável tão logo cheguei, como você disse uma vez sobre mim e todos os lu...

Entreolhar temporal

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Foto: CCBS-UFS. Rafael Rodrigo Marajá. Percorri esse caminho quando não entendia nada e só o que tinha era um desnorteamento entre o estômago e novos conceitos.  Encontrei pessoas, nesse mesmo caminho, que agregaram minutos de distração e outras, cheias de falsas esperanças, sentaram comigo para um suco, penosamente pago. Eu fiquei e elas se foram. Não mais as reconheço. E eu mesmo não sou o mesmo. Fiquei ali, no entrocamento entre o passado e o presente, com os bolsos vazios, o pensamento perdido e os olhos fixos nas folhas. Fiquei, entre motivos, porque não havia para onde ir e nem uma marquise para me abrigar do sol, da chuva e do desalento. As estações passaram, as pessoas passaram, o tempo passou, o clima mudou e eu, errante, fiquei. Ainda estou e me encontro a cada quinze dias, olhando para as plantas que crescem, sentindo o cheiro do formol e cheio de desafios a superar para manter o mínimo. Ainda sou o mesmo, sentindo-me encardido, ignorante e perdido.  Eu ...

Fórmula mágica

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Arte: Alimentando a Turquia. Eastman Johnson. The Met.   RECEBER + DAR O QUE RECEBER = DIVERGÊNCIAS Quando se inicia a árdua e gratificante tarefa de dar somente aquilo que se recebe há diversos conflitos com aqueles que dão muito pouco ou nada e insistem em receber demais. Frases como "gostaria de ajudar mais" e "Não sei como ajudar" são ditas como orações que apelam para o bom senso do necessitado. Elas são o eufemismo para a mesquinhez.  E de tanto ouvir os mesquinhos e suas frases feitas acaba sendo um - sem tirar e sem modificar letras e sentidos. O que não compreende é essa arma poderosa de ser quem se deseja, como se deseja e da forma que crer ser a melhor. Presos em conflitos pseudo religiosos e pela opinião alheia, os indivíduos reduzem-se à mediocridade que lhes cabe, na fatia mesquinha da reprodução social de papéis ultrapassados que gera a morte intelectual de cada pobre alma que segue por esse caminho. Ouve-se muito que é dando que se recebe. Porém, não...