Você é só pobre

Você é pobre!

Um mero e descartável capacho do sistema produtivo capitalista que o coloca dentro de um conceito hermético de indivíduo, onde nem mesmo cabe a si. 

E aí está você, rolando infinitamente a tela do seu smartphone, nunca o aparelho adequado, jamais localizado onde gostaria e em uma rotina capaz de suprir apenas as necessidades de uma Organização e de um fluxo produtivo pensado para satisfazer os desejos dos ricos, não sua mera expectativa de viver. 

Aliás, pobre como você é, crê ainda que vivendo em uma região metropolitana, respirando o ar poluído continuamente expelido por automóveis, fábricas e cigarros, comendo fast-food e vestindo andrajos que simulam marcas reconhecidas na Fashion Week  chegará em algum lugar. Só não se tocou ainda que quando precisa de atendimento hospitalar precisa enfrentar longas filas, habitadas por outros tantos pobres que reconhecem que a caminhada pela selva de concreto e asfalto não leva a lugar algum, e quando precisa ser atendido em centros de compras é visto como uma sujeira que impede os estratos mais altos da sociedade de frequentar o mesmo ambiente. 

Você é pobre e dentro do sistema "desenvolvimentista" imposto pelo colonizador não passa de mão de obra que insiste em comer e buscar a proximidade com o ideal de vida observado nos considerados ricos. E não precisa muito para você começar a mimetizar o rico: degradando o meio ambiente, desprezando os outros pobres, iludindo-se em religiões e perdido em aparências. Só que você não é rico e a farsa termina bem rápido, às vezes quando a fatura do cartão de crédito, etiquetado com a palavra POBRE, chega às suas mãos.

Você é pobre e segue o fluxo determinado para o seu hermético cubículo onde não cabe a reflexão, a ressignificação e o amor próprio. 

E assim o dia vai seguindo, com você se dividindo entre transportes públicos, humores sórdidos de pobres em cargos de pequenos poderes de pobres e uma alimentação que o torna patético, sempre com a luz de uma tela refletida nos olhos.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá