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Dia de feira

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Photo: Alfred Thompson Gobert. Louis-Rémy Robert. The Met.    Eu vi o dia ir esfriando, amenizando o tormento de uma temperatura acoitadeira de pobres diabos que busca o pão de cada dia - nem sempre de forma digna.  Da minha mesa de bar eu vi o casal que envelheceu com  o costume de tomar uma cervejinha depois das compras na feira. Vi os bêbados que se escondem nas sombras sociais, sempre esperando uma fatia de vida não viciada, languidamente jogada por qualquer passante.  Vi velhos conhecidos. Vi o desespero por maiores vendas. Vi mais um dia que se consumia em rostos gastos, em rotinas cansativas. Vi a noite caindo sobre todos - sobre a minha cerveja e o meio jeito inexpressivo de observar. Vi-me em rostos diversos, vestindo roupas desobedientes à moda corrente, falando a outrem sobre preços e leves pornografias. Até que todos começaram a ir embora e o bar ir esvaziando.  Até que tudo mudou, como sempre muda. E a vida, mutante sempre, transformou-me no bo...

Os auspícios do Unicompra

Novos paradigmas surgem sempre que uma novidade aparece e altera a tranquilidade do comodismo. E não seria diferente na atrasada, embora esperançosa, Palmeira dos Índios. A inauguração e o pleno funcionamento da nova loja da rede Unicompra acarretará, inevitavelmente, no fechamento da antiga loja. Somente os tolos não veem isso. Com uma manutenção cara, um prédio (alugado, segundo algumas fontes) à beira da condenação (é só observar o que ocorre quando chove) e uma eterna insatisfação com os feirantes, que insistem em ocupar as ruas de acesso ao estacionamento e que a gestão James Ribeiro não conseguiu desalojar, a administração do Unicompra já deve ter avaliado o custo de oportunidade de se manter duas lojas, sendo uma própria e moderna, em uma cidade como Palmeira dos Índios. Estranho seria manter as duas lojas, nas atuais circunstâncias. A resoluç...

A não-mística feira livre

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Foto: Feira livre de Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá. Fev/2017 Os vendedores de beberagens mágicas, os ilusionistas, as dançarinas, os andarilhos, as histórias mirabolantes e os excêntricos desapareceram das feiras livres deixando para trás um vazio impreenchível pela tecnologia dos smartphones. Não é mais possível encontrar ciganas e trambiqueiros.  As feiras livres tornaram-se demasiadamente chatas, sem atrativos místicos e econômicos – um modelo obsoleto que ainda ocupa ruas e tempo da maioria das cidades. Há poucos produtos que ainda podemos comprar somente em uma feira livre – como o pastel e o caldo de cana. As pessoas estão sem a criatividade do vendedor que diverte, vende e cria novas formas de comunicação. Os místicos ambulantes deixaram as ervas, que a tudo curam e para tudo serviam, e abandonaram, de uma vez por todas, os mistérios que os envolviam para seres meros reprodutores de conteúdo da internet – isso quando não desapareceram. O que so...