Dia de feira
Photo: Alfred Thompson Gobert. Louis-Rémy Robert. The Met. |
Eu vi o dia ir esfriando, amenizando o tormento de uma temperatura acoitadeira de pobres diabos que busca o pão de cada dia - nem sempre de forma digna.
Da minha mesa de bar eu vi o casal que envelheceu com o costume de tomar uma cervejinha depois das compras na feira. Vi os bêbados que se escondem nas sombras sociais, sempre esperando uma fatia de vida não viciada, languidamente jogada por qualquer passante.
Vi velhos conhecidos.
Vi o desespero por maiores vendas.
Vi mais um dia que se consumia em rostos gastos, em rotinas cansativas.
Vi a noite caindo sobre todos - sobre a minha cerveja e o meio jeito inexpressivo de observar.
Vi-me em rostos diversos, vestindo roupas desobedientes à moda corrente, falando a outrem sobre preços e leves pornografias.
Até que todos começaram a ir embora e o bar ir esvaziando.
Até que tudo mudou, como sempre muda.
E a vida, mutante sempre, transformou-me no boêmio que sempre existiu dentro de mim.
A vida seguiu e eu a segui.
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