Passo de ginga



Tentar todos podem. Tentar nem sempre é de graça, nem sempre é fácil e invariavelmente consiste em uma quebra da zona de conforto. Tentando fazer algo encontramo-nos sós, sem opiniões úteis e com muitas opções, poucas decisões e muita terra para andar. Andar só; sempre muito bem acompanhados de nossos demônios interiores. Os anjos demoram a aparecer.
Quando tentamos significa que algo não satisfaz mais e que se o novo não aparece, alguém deixa de fazer o que gosta, outro alguém morre de tédio e a infelicidade e insatisfação acaba sendo a senhora dos serviços e dos sonhos inacabados. 
Daí aquele momento que tentamos mudar, e não se sabe exatamente se para melhor ou pior - só depois descobrimos, sorrimos ou choramos ou os dois, em completo estado de desequilíbrio, como compôs o poeta - é o momento mais solitário e desalentador que existe. É quando anjos e demônios se calam, Deus e o Diabo sentam para observar e os conselhos desaparecem, por medo ou falta de força. Nesse momento, quase uma hora morta que se passa no interior de cada um, decidimos refazer nossa vida, nossa profissão e nosso futuro.
Há quem, depois, critique, mostre as vantagens do passado e o peso de um futuro que sequer chegou a se concretizar, mesmo quando podia ser minimamente vislumbrado. Há quem vire o rosto em desaprovação. Há quem nem ligue para o antigo caminho nem para o novo - completa indiferença. Há quem nos sorria com pena e há quem só pena tenha de uma "decisão errada". 
Se é assim, que seja. Que toda decisão de mudança seja a errada quando trouxer paz, tranquilidade e alegria a quem ousou ser errado. 
Tentar é isso também: é não saber se vai dar certo, mas que é o suficiente para compor a vida. Nesse passo que ginga, aprendendo capoeira e cantando samba, um dia ainda chegaremos na casa de um bamba para dançar capoeira ouvindo o ronco da cuíca.

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