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Mostrando postagens de fevereiro, 2015

UFS na negritude

O ano letivo de 2014 na Universidade Federal de Sergipe ainda nem terminou e os presentes de 2015 já se apresentam para uma prévia. O corte do Governo Federal no orçamento da educação fez os sindicatos reagirem, e com razão, apesar de os motivos serem bem diversos e nem sempre os mais louváveis. Para apoiar o sentimento de "revolta" que já se instalou entre o meio docente e técnico administrativo da UFS, ocorreu, ontem, com repercussões que ainda vão muito além de data e conversa fiada, a suspensão no fornecimento de energia elétrica da Cidade Universitária, em São Cristóvão. Aulas, Pesquisa, Extensão e a matrícula dos calouros foram alguns dos serviços afetados e que, sem dúvidas, funcionou muito bem para avaliar a possível volta à idade da pedra. Faixas já foram penduradas para uma paralisação dos técnicos administrativos no dia três de março. Os professores só irão aderir, como sempre, se o corte nas verbas os atingirem diretamente. E outras greves podem surg...

Cachorras

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Uma mulher pode destruir a vida de um homem. Este pode matar uma mulher. E todos podem amar intensamente pelo tempo suficiente que durar o amor. Por alguém é possível matar, roubar, destruir e operar milagres - só não é possível fazer este alguém continuar amando. Em Cachorras o leitor é convidado a vivenciar um amor doentio de um homem problemático por uma mulher perfeita, a mais linda de todas, com uma inteligência acima do normal. E mais: o leitor terá que discernir o que é real e o que é mero delírio.  Com características de relacionamentos simples, infantis e cômicos ( tão normais no cotidiano de qualquer cidade), Claufe Rodrigues cria uma teia psicológica complexa em que a relação entre mãe e filho é abalada pela discordância sobre o amor e sobre a vida na velhice; sobre segredos maternos não revelados que podem explicar as diferenças familiares, geradores dos conflitos entre irmãos. Não bastasse isso, Cachorras trata com humor o desespero de um indivíduo apaixona...

Solidão alheia

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Foto: Manoel de Barros, em Menino do mato A solidão alheia preocupa-me. E muito. A minha não - eu leio, escrevo, estudo, ouço álbuns, reflito, planejo, estabeleço e destruo metas, meço o cabelo e por aí; acaba que nem lembro dela, apesar dela estar sempre quietinha na cadeira ao lado. Já a alheia é perigosa. Fatal. Terrível. Os outros buscam outras solidões para sobreviver aos dias, às lembranças, às manias, aos achismos. O problema é que é uma solidão como remédio para outra. É quase como tratar um doente do fígado com cachaça - não sai nada de bom. E o pior: conformam-se com pouco, com maus-tratos, com grosserias apenas para não encararem a realidade inevitável - a solidão não se trata, convive-se com ela. Daí, os resultados imediatos são casamentos frustados, negócios fracassados, discussões drogas, agressões, fofocas, religiões ridículas. A solidão alheia é perigosa porque causa destruição por onde passa. Prefere ferir a sorrir. É motivo e combustível de intrigas. É o de...

Dor da segunda

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Assim amanheceu Palmeira dos Índios As dores de cada um são tão intensas que somente a solidão é capaz de traduzir os reflexos, ão de uma alma doente, mas de sonhos incubados em paredes, fotografias e na falta de vontade. A segunda-feira tem morte, tem alegria, tem realizações e não tem nada, pois, para cada um que vive, exite um movimento reflexivo capaz de explicar e redirecionar cada destino, se o destino realmente for um fator decisivo na vida do homem. É o segundo dia da semana, o primeiro "útil", que o homem toma como reinício de algum acontecimento; como a retomada da vida cotidiana, como se no sábado e no domingo todos morressem  momentaneamente. As dores da segunda-feira são visíveis; são coloridas e tocam rostos e histórias sem que ninguém tenha o bom senso de indagar qual o sentido de viver. Hoje a Venezuela segue seu caminho problemático, agravando a diplomacia, a vida rueira do povo e o Governo de Miraflores segue provocando o colapso nacional. Na ...

O dia conflitante

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O domingo - que dia tão pretensiosamente maravilhoso. Os pobres (de bom senso) já acordam ouvindo o melhor das músicas de botequim falido. Os pobres (de opinião própria) mal abrem os olhos e já buscam o caminho da rua para ter sobre o que falar durante todo o maravilhoso  domingo. Os pobres (de dinheiro) não têm escolha - são obrigados a passar um domingo com a mesma desgraça de vida que têm durante a semana. Entretanto, essas características de comunidade nem de longe superam a mania indissolúvel da prática religiosa que acontece só nesse dia da semana. É católico abrindo a igreja para receber os infiéis que só encontram Jesus por uma hora e meia no mês - e nada adianta porque saem pior do que entraram, não todos, é evidente. São protestantes que abrem suas portas comerciais - igrejas que são negócios e funcionam em pontos comerciais são negócios por adaptação da realidade -; e as que possuem prédio próprio salvam ao menos a reputação da doutrina pregada. É inter...

Ratazanas

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Foto: babaranonato.wordpress.com 16 horas. A hora da fofoca e da vadiagem da "respeitável dona de casa". É o sol se esconder, ou fazer alguma sombra, que algumas mulheres ( e alguns homens) deixam suas casas e novelas vespertinas para ficarem sentadas na calçada - sempre anotando a vida alheia. Aliás, sabendo que a vida alheia é sempre muito mais interessante, elas acabam exagerando na dose, jugando mais que o que não deveria e supondo demais. As calçadas são nocivas; a pior invenção da humanidade - só pela simples razão de serem apoios para mulheres feias, mal-amadas e fofoqueiras. É evidente que tais pessoas não são felizes, não possuem hobbies, são mal fodidas e só querem ridicularizar os outros já que não conseguem rir da própria desgraça de vida. Assim, entre a mediocridade e a infelicidade, as calçadas estão cheias de deprimentes "respeitáveis donas de casa".  E enquanto isso for cômodo as ratazanas da vida alheia estarão lá, lembran...

Quarta-feira de cinzas, Colombina

"Pegue o vestido estampado, guarde pro carnaval Guarde que eu nunca te quis mal Até o feriado quarta-feira de cinzas e tá tudo acabado" Vestido estampado Ana Carolina Não desespera, Colombina, que eu volto no próximo carnaval. Não se descabela que meus reinos são feitos de confetes e meus escravos são máscaras que nunca desaparecem. Deixa as feridas para depressivos; depressões para aqueles que não vivem carnavais iguais aos nossos, Colombina. Pega essas fotos, esses beijos, essas marcas de muros, essa tinta do rosto, esse sol, essa noite e nossa alegria e embala para essa quarta-feira de cinzas. Nossos amores agora são cinzas expostas nas igrejas, nas testas, nos  rostos puritanos do pós-carnaval. Que lástima! Seu vestido, tantas vezes tirado, rasgado, está lindo sob o sol. Sua pele, mordida, manchada de bocas, arroxeada por pressões tantas, é o pergaminho dessa história. Então não diga que não restou amostras de amor, sexo e sacanagem - somos nós e...

A Comissão Chapeleira

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Em 1982, na Suécia, Gabriel García Márquez expôs a solidão das Américas Central e do Sul por meio de seu discurso na cerimônia de premiação do Nobel de Literatura. Tranformou em palavras e números séculos de exploração e um finitude de governos ditatoriais que fez sangrar o mar do caribe, as grandes altitudes chilenas e o clima muito mais ao sul do equador.  Mais de trinta anos se passaram e o fantasma da dor, da tortura e da luta por uma vida livre das opressões e das violências cometidas por ditadores ainda ronda as Américas, impedindo a discussão sobre vários aspectos de uma época sombria da história americana. Mais de trinta anos depois surge A Comissão Chapeleira .  O livro 2 de A Arma Escarlate explora com delicadeza a luta contra um regime ditatorial, o estupro, o massacre de crianças e adultos e a fragilidade dos Governos diante da loucura de uns poucos. Renata Ventura expõe de maneira clara, objetiva e sensível a tortura, física e emocional, sofrida pe...

Seus filhos, seus reflexos

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Uma mulher muito inteligente e observadora disse "No te preocupes porque tus hijos no te escuchan: te observan todos los días" E sua máxima é tão correta que até hoje os pais e mães não se deram conta de que a verdade bate em seus rostos com mão de ferro e não a reconhecem. Sua máxima sequer é tomada como verdade porque os pais, a maioria, recusam-se a aceitar que seus exemplos, mais que suas palavras, é o que faz a diferença na vida de seus filhos. Pais e Mães fumam, drogam-se, abortam os estudos, criticam as crises adolescentes, menosprezam os problema juvenis, não prestam efetivamente atenção aos sinais que os próprios filhos dão em casos de anomalias, usam a Igreja para condenar os outros porém cometem pecados ainda piores; e, no entanto, exigem dos filhos a retidão, nas suas mais diversas manifestações, formando um paradoxo de consequências muito tristes - para a sociedade e para o futuro. Essa mulher, inteligentíssima, Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), al...

Do Carnaval

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Foto; Página Jesus Manero As pessoas, principalmente os hipócritas e os metidos a crentes na palavra de um Deus inseguro, confundem o Carnaval com depravação; brincadeira de rua com marginalização dos brincantes. Que fique claro: não é por que as festividades são na rua que é depravada e marginal. Isso é visão de preconceituoso.  Evidentemente que essa maneira de ver a festa de momo tem uma razão, ou várias. Seja os elevados de Salvador transformados em banheiro, seja o concreto carioca corroído pela urina, sempre há uma razão. E se nos voltarmos para as cidades pequenas, onde os blocos de rua, na maioria das vezes deprimentes e que só repetem as músicas da moda de dois verões passados, veremos não só os homens abrindo as calças - as mulheres procuram a nada discreta proteção dos carros estacionados ou de moitas, seja onde for, para aliviar toda a cerveja ingerida no percurso - que nem é tão grande assim,  Chego a conclusão de que nem é o aperto fisiológico. É mai...

Estranha História #3

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Um dia ele a viu de perto, bem perto, e pôde observar seus pequenos defeitos, a cor dos seus olhos. Nesse dia, acima de qualquer dúvida, ele soube que os deuses não havia brincado. Nesse dia, apesar de todas as tentativas, os dias anteriores não existiram mais, nem passado teve. Só o presente passou a ser fantástico. Sob seus olhos ela foi desnudada - sem mitos, sem artifícios, sem sacrifícios. O sol do fim de tarde sequer queimou-lhe as retinas ao olhá-lo diretamente. Nada tão doce quanto sua face. Nada tão comestível quanto seu sotaque. Nada tão atraente quanto a alegação de atraso. Ela, sempre alheia, tão distante e tão perto, passível de abraços apertados, atapetados de beijos. O ambiente, tão impróprio. Ele, lava derramada sobre a montanha. A tarde, mais cedo, tardíssimo, com o tempo gritando ordens de pressas e compromissos, acabou de repente, tal qual começara. Eles, na separação, inflamada, de um não pode estar juntos, próximos, cúmplices. Até quando, ele pergunta-s...

Desamores

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Teço-me, de Arriete Vilela A poesia poderia ser definida como tudo aquilo que é pensado e não dito, seja pela pressa dos afazeres ou pela negligência com o outro. Faz do fio bonito, do ódio amor, do amor desespero e acaba tirando de quem lê as pétalas de uma flor outrora cultivada com carinho  dedicação. Estava, nesse verão que dura o ano todo, lendo uns poemas de Arriete Vilela, quando me deparei com o desamor - esse antagonista do amor que fere e mata. E não é que existem desamores para dar e vender!? Os desamores que cercam a estante, os troféus, as fotografias, os perfumes e as roupas; que enlaçam a vontade e aniquilam o desejo. Esses desamores, se não tiver cuidado, não vão tirar só a vida - eles sempre querem a alma, o mármore do inferno ou as asas dos anjos. E o engraçado é que os desamores querem sempre ser amados, apesar das guerras, dos xingamentos e das agressões; querem estar sempre perto, sabendo de tudo e sendo o centro das atenções. Os desamores são ...

Absurdo punível

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Cena registrada no sudeste Os brasileiros não podem reclamar quando são rechaçados por ONG's e Países que defendam os direitos dos animais Não pode sequer reclamar das arbitrariedades dos representantes políticos das Casas do Senado e da Câmara dos Deputados. E não podem recamar porque são agentes ativos das arbitrariedades, dentro e fora do Parlamento, em graus variados de omissão e passividade. O Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, chega a afrontar o desejo da sociedade ao afirmar que projetos como a legalização do aborto só será votado "sob o meu cadáver". É essa a postura de um representante popular? Um representante que usa seus conhecimentos medíocres para nortear o direcionamento legal de um País não pode, sob hipótese alguma, misturar religião, cultura local e "achismos" para colocar em discussão projetos extremamente importantes para o futuro do Brasil. É gente com esse tipo de atitude que lota o Congresso Nacional e desperd...

Silêncio abandonado

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Manoel de Barros, em Menino do Mato Há quem grite; entre em desespero; humilhe-se. Há quem estimula a pena alheia e de quem nunca imaginou,o dó. Há quem nada fale. Há quem tudo diga, sem ao menos descerrar os lábios. Cada um com suas urgências, crises emocionais, distopias ritmadas e aflições  diversas. E, sem que notemos, não ouvimos o outro, por mais que este grite, nem nos tocamos com as palavras ditas - em nossas cabeças apenas os nossos silêncios e os nossos gritos importam.

A Arma Escarlate

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Conhecido pela literatura de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Machado de Assis e tantos outros imortais, o Brasil tem visto uma nova onda vermelha em suas regiões. Uma nova maneira de ver a literatura fantástica nacional. A Arma Escarlate não é, como alguns gostam de comparar, um "Harry Potter brasileiro". E ouso dizer, jamais o seria - e pelos bons motivos. Hugo Escarlate, o Idá do Dona Marta, é a representação real do jovem brasileiro, ainda hoje, esquecido pelo holofotes da mídia assistencialista. Hugo nasceu e viveu em uma favela. E poderia ter nascido e vivido no interior do nordeste, da amazônia ou no esquecido Acre, estado de Átila Antunes, e ainda assim representaria a legião de filhos sem pais(registrados); de jovens sem orientação social e educacional, vítimas e agentes da violência; de indivíduos imersos em submundos dos mais variados, do saudável ao nocivo. Renata Ventura explorou o que o Brasil tem de sobra: ...

"Zé é o caralho"

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Rodoviária de Arapiraca. Madrugada. Rafael Rodrigo Marajá. Tão natural quanto o sol quente do meio-dia é a mania de chamar toda mulher de Maria e todo homem de "Zé" - como se não bastassem os milhares de Josés, Marias e variações que existem.  Ou era tão natural a assim. A geração que não vivenciou o período de seca alarmante no nordeste ou que não vivenciou as mudanças de poder na Capital Federal e no coração industrial e cultural do país não é tão receptiva às generalizações nominais. Rafaéis, Amandas, Carolines, Isadoras, Caios... são nomes que não aceitam generalizações - e seus portadores menos ainda, Isso tudo vem à mente quando alguém, às quatro horas de uma madrugada climaticamente confusa de Arapiraca, insiste em oferecer um serviço que você não quer, ou não precisa, através do subterfúgio de "psiu!, ô zé, quer táxi?", "ô zé, quer táxi?", "psiu".... Daí você olha para trás com um único pensamento: Zé é o CARALHO! E essa é a...

Miraflores isolado

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Bandeira da Venezuela Em seu discurso, na Real Academia Sueca, por ocasião da premiação do Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez salientou a solidão da América Latina e do Caribe e os séculos de exploração. Mais de trinta anos depois, a América Latina e o Caribe continuam sendo preteridos, relegados a último lugar da lista de preocupações internacionais de grandes nações, sejam europeias sejam americanas. E o melhor exemplo é a Venezuela, que luta contra uma suposta "guerra econômica", fezendo vítimas pelas gerações futuras, se considerarmos os efeitos da propagação do HIV e da gravidez adolescente. Do Palácio de Miraflores o Presidente Maduro tem desencadeado uma série de arbitrariedades que já deixou até a Alemanha em regime de atenção. Executivos foram, e ainda o são, presos e julgados; redes de distribuição de alimentos são expropriadas e o povo sofre com a escassez de produtos básicos. A tal "guerra econômica" justifica as arbitrariedades, tor...

Estranha História #2

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Ele, andando sob o sol da manhã, olhava com desatenção para o caminho, mirando as ondas do mar. Ela, sob o véu do mistério, ocultava-lhe a face em algum lugar. Ele, pensando no mistério das conchas do mar, não sabia que mistério fazia aquele rosto se esconder. Ela, alheia a tudo e a todos, seguia sua vida . Ele, não sabia que caminho seguir. Ela, tão diferente! Ele, igual a tantos outros, achava-se menos que outros. Ela, tão inatingível, sequer olhava-o. Ele não era mais ele. Ela era tão ela! Súbito, ele lembrou-se: como convencê-la a ir com ele até o mar? Então lembrou-se - aquilo que se chama amor dispensa convencimentos, apenas existe. E foi caminhando...

A mariposa

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Alguns seres são incríveis! Vivem suas vidas com a rotina escrita pela natureza, acrescida das modificações que o homem tão notadamente insiste em fazer. O homem e seus brinquedos demoníacos... Há não muito tempo estava sendo cozido pela noite abafada de Aracaju, em um dos blocos de apartamentos construídos quando era mais fácil ser "chique" e morar em uma caixa pré-moldada do que em uma casa razoável, em alguma cidade - ainda que muito limitada tecnologicamente-, quando uma mariposa (a da foto) entrou pela janela e circulou pela sala, espalhou a poeira da lâmpada, pousou na tela do aparelho de TV e sossegou na parede. E lá ficou. Lá passou a noite. E enquanto o calor cozinhava minhas células, a Globo transmitia Homeland e alguém estudava cálculo III notei o quanto somos irresponsáveis ao querer enquadrar o mundo, ao nosso redor e muito além, nos parâmetros limitados que conhecemos, estabelecendo limites cada vez mais restritos com medo de que o novo ouse quebrar ...

Luz da Aurora

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Depois do barulho repetitivo que foi o bloco de rua "As Andorinhas" e cem folhas depois de A Arma Escarlate, o dia começou a despontar sobre o manto negro da noite ao som de pássaros e do barulho natural de automóveis, panelas e portas batendo - o som natural da humanidade acordando. Como havia passado a noite inteira na Korkovado com os Pixies e o Hugo, naquela venda maluca de cocaína, minha cadela também não saiu nem um minuto para passear e fazer os "chamados da natureza". E que surpresa não tive ao abrir a porta, caminhar por minha rua sem saída e deparar-me com a aurora pintando de cores vibrantes o céu de verão de Palmeira dos Índios. Enquanto a noite ia sumindo devagar, a luz do amanhecer foi limpando o céu noturno. Minha cadela correndo e pulando. Meus olhos pensando naquelas cores e no quanto perdíamos ao manter a tradição idiota de dormir cedo ou de não levantar quando ainda está escuro, isso para aqueles que já não trabalham bem cedinho. O céu, senhor...

Divagações sobre o céu gratuito

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Lua do céu de Palmeira dos Índios - AL Olhar o céu é de graça e o único efeito colateral é uma leve dor no pescoço, se for à noite, ou u irritação lacrimejante, se for durante o dia. Tem estrelas; tem o azul em várias tonalidades; tem a lua; tem o sol; tem o infinito; tem amores; tem dores; tem desejos; tem você. O céu noturno, por exemplo, é particularmente bonito - São Jorge e Lilith na lua, os signos do zodíaco nas estrelas, a voz de alguém dizendo quão linda é a lua, gorda, sobre o fundo negro. É bonito pelos ventos na terra; pelas fotos mal tiradas, pelos cometas que o atravessam, pela poesia que traduz. É de graça, mas custa tanto! Se essa lua que nunca vira a face pudesse falar, o que será que nos diria, depois de tantas guerras, conflitos e mudanças? O que será que nos diria sobre esse tal amor?

Poema sem título

À A Não quero só o seu corpo Com água de cheiro e colônia Não desejo apenas os seus olhos Quero seus olhares furta-cor Seus desejos luminosos Seus ossos Meus quereres são desejos Saciados apenas por suas vontades Íntimas, indecentes.

Sambando, salvamos

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Sabe quando o carnaval é uma festa que sai das ruas e invade as casas, arrastando pessoas, músicas, calor e diversão no asfalto, na areia e promove os encontros mais hilariantes? Sabe quando as fantasias são as roupas mais legais que você já viu? Sabe quando professor para a aula para falar de carnaval, música e suor? Sabe quando, do nada, aparecem os amores carnavalescos? Sabe aquele dia depois da noite agitada?   Se você souber, avise-me!   Agora o carnaval está demonizado, procrastinado!   Pessoas que atribuem a ele os malefícios de todo o ano; que não saem às ruas para pular, dançar e cantar; que preferem as redes sociais; que não se apaixonam carnavalescamente; que não buscam o suor e o cansaço através das brincadeiras; que não jogam confetes; que só ouvem um tipo de música; que não ficam satisfeitas com o barulho e com a pouca roupa; que acha pecado vestir pouca roupa nesse calor dos trópicos; que implicam com a música noturna só porque não dá ...

Essas flores

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Jasmim - IFAL- Palmeira dos Índios Já se foram estações, suores, amores, lágrimas e quilômetros. Milhas foram acumuladas, batons acabaram em outras bocas, perfumes saíram de um corpo a outro. Seus olhares foram para outras retinas e deixaram brilhos em muitos lugares. Meus dentes morderam outros pescoços. Seus escritos deixaram de existir e minha letra só piorou. Seu cabelo continua ruim. O meu só cresceu. Você ainda é limitante. Eu, indefinido. O céu continua quente. A grama, verde só em alguns pontos. Suas palavras, de amor, desejo e raiva, ainda estão expostas no chão - nas flores só o frescor da noite. Já se foram duas eleições presidenciais. Anos em cálculo e desencontro. Criaram programas de TV ridículos e sem graça; programas sociais. E, apesar do tempo, as fores seguem seu rumo, servindo de lastro para outros tantos romances; espalhando perfumes e cores. O castelinho ruiu; o mundo partiu; aviões caíram; ônibus mergulharam em rios; facadas, tiros e mortes acontecer...

Verão particular

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IFAL - Palmeira dos Índios. Alagoas "Caia a tarde feito um viaduto E um bêbado trajando luto" O Bêbado e a Equilibrista O verão tem umas belezas bem particulares! A luz nem sempre tão amena, o calor nem sempre tão confortável. A brisa? Nem vou citar porque existem lugares que sequer corre uma. Tem mais. E sempre tem mais. Tem discussões acerca de fotografias. Tem a melancolia de um fim efêmero. Tem a incapacidade diante do inevitável. Tem luto. Tem amores findos. Tem pernas que não sabem aonde ir. Tem nuvens. O fim de um dia tem aquela mistura complicada de cores, sonhos, vontades. É um poço sem fundo. O que resta depois do sol é algo que ainda não se descobriu; a noite não deixa.

O Tamanho do Céu

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A morte é um tipo de solidão degustada entre os vivos como um manjar negro, competentemente servido dia após dia, assim os degustadores queiram. A morte, assim como a vida, tem lá suas facetas, suas histerias, seu desespero, sua alegria. O Tamanho do Céu , de Thrity Umrigar, é a transcrição de uma morte precoce de um infante que significava mais que o sol na vida de seus pais - era também a representação física do amor entre Ellie e Frank. Em um enredo com um ritmo constante, sempre com as emoções evoluindo e retrocedendo frente aos mais diferentes estados de espírito e de localização geográfica, Umrigar expõe ao leitor as diversas faces de uma Índia super populosa que oscila ante o sentimento de sobrevivência e de vontade de viver. O Tamanho do Céu de Frank e Ellie restringe-se a Ben. E para o leitor o céu tem o tamanho da dor e da alegria momentânea de suas personagens. Com a morte de Ben, a superação da perda de seu filho por Frank e Ellie, o início da paixão e do amor ...

O Dianho

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Folhas e flores do jasmineiro do IFAL - Palmeira dos Índios Sabe, às vezes o amor bate à porta, dorme na horta e nunca está acordado quando se precisa dele. Às vezes vemos uma figura e pensamos que é o amor dormindo, de braços cruzados sobre os olhos. E quando chegamos perto - buuuum - é só um reflexo do desassossego. O amor tem pilantragens estranhas - gosta de cuspir na comida alheia, de sorrir em velório, de criar raízes em pés de gente. O amor é ladino! Cá para mim, esse tal de amor é espécie de dianho que morde o calcanhar da gente e espera nosso choro; e quando sequer o olhamos, ofende-se, grita com a gente, fica vermelho de raiva e diz 'destá!'. Outro dia ia passando sob o jasmineiro e o vi contando uma história - coisa mais estranha. De outra feita, os jambos estavam querendo cair - já não aguentavam mais tanta gente dizendo que eram vermelhos como o amor e do formato certinho de um coração.  O amor dá para endoidar até as plantas, quanto mais nós...

Lá no instagram

O tempo passa e nossos espelhos insistem em nos dizer isso. Talvez a gordura continue a mesma, ou oscile tanto que não mostre grandes diferenças; talvez o cabelo, pintado, grande, mude pouco. Mas o tempo está, em nossos rostos, escorrendo, como uma maquiagem sendo deteriorada pela água - e não importa se são lágrimas ou a água do mar. E essa passagem do tempo nunca foi tão notada quanto em um dia quando estava postando uma foto no instagram. Minha foto acabava de ser carregada quando, no feed, apareceu outra, logo abaixo, de alguém conhecida. Minha foto, banal, estranha de propósito; a outra, tão banal, tão nítida. O rosto exposto na outra foto denotava tão-somente a falta de risco, de ousadia em que o ser vivia. Tanto tempo depois e lá estava, igual nas características gerais. Diferente apenas na chapinha mal aplicada. A foto é isso: um retrato da alma que geralmente confundimos com exposição visual. O visual nada tem a ver com a fotografia. O tempo, senhor dos corpos e da n...

A falta de acesso

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Fevereiro começou e o nosso carnaval está começando a espantar as preocupações com a inflação, com a política e com a falta d'água. Alguns estados pressionam a população anunciando o cancelamento dos festejos carnavalescos pelos mais diferentes motivos, que não justificam nem o confete não comprado. Por sorte o carnaval acontece no verão! Quase sinônimo de carnaval, o verão tem alguns conceitos estranhos. Um deles é a bunda. Não qualquer bunda - a feminina, especificamente. Os gringos adoram as praias brasileiras porque só nelas existem belas mulheres de biquínis, sempre pequenos e expondo bundas dos mais diferentes tamanhos, com as mais diferentes marcas, duras, moles, com pelos ou lisas. É um desfile de bundas, algumas até falam como diz o Francisco. O paradoxo é que a nossa colonização católica e os "medinhos" femininos fizeram com que algumas mulheres se tornassem um pouco mais pudicas que o normal. O resultado é: a bunda, a comum, da mulher comum, tornou-se ...

Estranha História #1

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A Pequena Sereia Ao passar da minúscula sala para a ainda menor cozinha, na pretensão de um feito incrível - fazer o jantar - ocorre-lhe uma ideia e um sorriso debochado rasga seu rosto em um prazer sem limites. E não consegue deixar de pensar nela, nas suas formas, no humor tão parecido com o dele. E o riso cede lugar ao espanto - finalmente encontrou o que procurava? Conheceu-a por mero acaso, em umas dessas brincadeiras sem sentido que o destino faz vez em quando e cuja razão ninguém descobre. Conhecer não é exatamente o verbo a ser utilizado, atraído magneticamente pela cor de bronze de sua pele é o que mais se aproxima do ocorrido. Depois de vê-la o conceito de beleza foi instantaneamente redefinido e sua vida não foi mais o que era. Ela, esfinge, sorri sem modéstia! Poderia ter sido o corpo lindo que ela expõe sem modéstia por aí; poderia ser a pele macia; poderia ser o sorriso quase debochado; poderia ser sua seriedade; e mesmo assim algo indefinível o ...

Dominguado

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O domingo é aquele dia chatinho em que o melhor mesmo é estar à beira-mar, curtindo o ócio ou na vadiagem com uma galera, que não tem nada mais para fazer além da vadiagem. Em Palmeira dos Índios a situação é ainda pior porque faltam locais para um bom programa, não tem praças decentes, falta até gente nas ruas. O domingo na cidade é assim: fantasma! As principais ruas e avenidas não têm um pé de pessoa para contar a fofoca de quem traiu, quem matou, quem está roubando. Não tem táxi, nem transporte coletivo, nem lanchonetes abertas, nem ninguém nas calçadas - melhor dizendo, quem está mais presente é mesmo o ninguém. Na avenida de todos os fofoqueiros, não há alma viva.  Avenida Alagoas. Palmeira dos Índios - AL  Nem próximos às Igrejas... Na encruzilhada com a Avenida Alemanha - Palmeira dos Índios- AL  Nem mesmo nas cercanias da delegacia, onde qualquer preso pode ir embora a hora que desejar,  e do hospital da cidade, onde vive fechado e o...

Não nos importa a seca do sudeste

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Foto: blog do manxxxa A seca nos estados do sudeste é um problema deles. O nordeste aprendeu a conviver muito bem com as dificuldades provocadas pela seca, desde que o Brasil é Brasil. Pode parecer insensibilidade, mas é somente o reflexo de quem só tem água durante 3 ou 4 dias por semana e que mesmo assim não faz alarde de uma pretensa desgraça. E quando a água não chega nesses 3 ou 4 dias, sem desespero, espera para o próximo chiado da torneira. O que preocupa o nordestino não é a água - é o aumento na conta de energia, a alta das taxas sobre produtos, a corrupção, a violência. Além disso, é o carnaval e suas atrações, os blocos carnavalescos, a poesia, a arte, as praias, os animais assassinados por vizinhos desprezíveis  - como foi no NEAFA. Tudo isso ocupa nossa cabeça.  A água? Não nos falem de água, que esse é um tema em que nos doutoramos e já faz tempo que deixou de ser "pauta grave"