A conta de fim de ano

Árvores de natal, luzes, panetones, vermelho, verde e branco, neve artificial, imagens do nascimento de Cristo e todo o blá blá blá de recomeço e nada que vá realmente fazer parte do balanço anual. 
Devia entrar na conta, a que realmente importa, os amores perdidos, as paixões abortadas, as maneiras que ficamos a ver navios, os risos de loucura e os livros lidos - e todas as suas impressionantes histórias. Uma conta que nem sempre está com saldo positivo, porém sempre aberta para novas recontagens.
O fim de ano devia ter a nossa marca pessoal - nossas mordidas mal dadas em sobremesas alheias, beijos pendentes em bocas que são muita "areia para o nosso caminhãozinho", os momentos de raiva e a tranquilidade de ter passado pelos bocados de todo dia e que, apesar dos cretinos do cotidiano, ainda estarmos de pé, debochando do mundo.
É muita luz colorida para pouca gente sempre que se aproxima o tal do natal e os fogos da virada.
É pouca comida para muito olho e, mesmo assim, continuamos a esperar por uma dieta ou pela academia da primeira segunda-feira do ano vindouro.
É muita hipocrisia para pouco amor.
É muita raiva para um só nascimento.
É um chove-não-molha que acaba adiando sonhos e minimizando as ardentes vinganças de outrora.
O dezembro de todos os anos é realmente engraçado: corremos tanto e acabamos fazendo as mesmas coisas, olhando os mesmos rostos e nos perguntando qual a diferença entre um pão e um copo de coca com panetone, digerido em qualquer outra data.
No fim de tudo, quando recolher a bagunça, a louça suja, os presentes - se ganhar- e as luzes coloridas, o que vai sobrar é aquele desejo que faz a conta não fechar.

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