Nuvens de cianureto
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Vista do céu. Palmeira dos Índios-AL |
As nuvens são engraçadas - tornam o dia nublado, descrevem animais e anomalias no profundo céu, somem sem deixar pistas e aparecem ninguém sabe de onde.
Alguns gostam de acreditar que são de algodão, outros nem observam suas formas e perguntas. E elas estão sempre lá, no azul ou no chumbo, existindo.
Embaixo, na terra, à luz solar, casais caminham em discussões infindáveis, sem saber em que ponto se perderam; mães que esquecem os filhos nas lembranças - e não sabem como voltar para buscá-los; olhos tristes que vagueiam à procura de pelos negros que sumiram, de rostos suados e felizes que se foram, de estados alegres destruídos pela ditadura do egoísmo.
Embaixo das nuvens o "deixar de existir" é regra para quem não suporta a alegria de estar bem. E embaixo, sempre e cada vez mais, nunca termina.
Queria poder dizer, como faz a Igreja (Padres, Pastores e Idólatras), que tudo vai bem em meio à pobreza de espírito e de material; que apesar das inúmeras faltas sempre há o que agradecer e conclamar; que existe uma voz divina guiando e orientando; que viado é o filho do vizinho e que puta sempre há de existir na cama de todos os homens de boa vontade; que amanhã vai chover; que vejo extraordinária imagem nas nuvens.
Só queria. Porque a realidade, o sol, as pessoas brigando e minha consciência me dizem que só um bom sono ou uma boa dose de cianureto pode refazer a vida que vejo desfilar em trajes íntimos na calçada à minha frente.
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