Um desgosto? uma saída no açude


Praça do Açude - Atual


Na terra de todos os indígenas o amor que renomeia as praças e os segredos fazem dos palmeiríndios são piores que o elétron:  onda e matéria, depende da situação. De repente, não mais que de repente, alguém se joga dentro do açude, lamacento, putrefato, histórico. No centro da cidade do amor (?) muitos jogaram suas vidas nas águas paradas do açude que banha as ruas do centro da cidade, nas raras chuvas fortes que acontecem.
Para se jogar dentro da boca de lobo municipal é preciso coragem. Ninguém merece morrer em meio à lama, no entanto, se a cachaça não for o suficiente, se a uma desilusão amorosa não for suficiente, se a falta de dinheiro for pequena e não for suficiente, se tudo parece terrível, pense em se jogar dentro do açude palmeirense. De repente, poderá não encontrar doze virgens na pós-mortalidade. Poderá, entretanto, encontrar-se sujo de lama e de arrependimento por ter entrado em uma sepultura tão decadente.
Apesar de todas as “qualidades” do tão querido açude, uma curiosidade não deixa de povoar a imaginação de visitantes e nativos, quantos cadáveres, exatamente, habitam o fundo?
E quantas vezes as águas passaram por baixa da rua, lavando os pés de todos, os casos de todos? Quantas maneiras, quantas histórias, quantos mistérios guarda esse aglomerado aquífero da terra de todos os indígenas?
Praça do Açude
O que ouvimos por aí são meras expressões de traduzir tudo o que é tradição nessa cidade estagnada: morrer na água esgotada da casa de show, da gota d’água, das águas serranas, das lágrimas de outros, do álcool derramado, do amor que assassinou a lenda palmeirense.
Mais um que se foi. Mais um que pode ter amado, ter sido traído, ter se desiludido, ter se desenganado. É normal acontecer. Quantos, no mesmo dia, no mesmo instante, não queriam ter acompanhado aquele ser, deixar para trás tudo o que os fez cair em meio ao vão? Outros podem ter ido com ele, por pensamento e apoio. Outros mais podem ter revivido, vendo na morte daquele os ideais perdidos, os amores inabaláveis, que sempre estarão no mesmo lugar esperando o novo dia, chuvoso ou não, que trará novas histórias, velhas monotonias.
Na cidade do amor e de todos os indígenas, os vivos são capazes de guardar tantas emoções e esperar tanto, que o açude é o testamento irrefutável de todos que passam e o veem e de todos aqueles que findaram suas vidas.
A neblina desce a serra, as águas estão em pequenas ondas, os sorrisos voltaram, as palavras estão onde devem. Os mortos e vivos abraçando seus amores e temores. E quem vai ser o próximo?

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