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Emoções em signos

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Xilogravura: A competição entre Apollo e Marysas. Niccolò Vicentino. Metmuseum.  Meus vizinhos amam músicas sertanejas e bregas que exaltam as dores emocionais. Do meu ambiente home office eu as ouço e silencio a minha trilha sonora de modo que consiga ouvir a letra, a melodia, os gritos e as tentativas de cantarolar o hit do momento.  E sempre fico avaliando não a letra cafona ou o ritmo inexpressivo, mas a capacidade de auto identificação com a composição, com as situações da vida que nos impulsiona a traduzir em signos todas as emoções que nos alegram e afligem na montanha russa brasileira que é viver em condições difíceis e com pessoas não menos complicadas. E se não é possível mudar, de imediato, a situação que ao menos consigamos embriagar o corpo, o intelecto e o espírito com música, álcool e paixões requentadas e lembranças adocicadas pelo tempo.   Meus  vizinhos vivem uma vida pobre, que beira a miserabilidade material e imaterial, e parecem não se impo...

Os heróis de live

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As lives de cantores sertanejos, que saíram na vanguarda da quebra de recordes de acessos simultâneos e toneladas arrecadadas para ajudar os mais necessitados durante o atual período pandêmico são tudo o que a falsa moralidade religiosa prega nos obscuros templo (neo)pentecostais. Não é estranho que em um momento em que o populacho, naturalmente pobre, esteja sendo direcionado a fazer doações por meio da indulgência de Pocket-shows de seus artistas favoritos, que enriqueceram às custas desses mesmos pobres? Não é estranho que essa classe de "artistas" não saiba nem onde fica o próprio bolso quando o assunto é ajudar os próprios fãs? Patrocínios, poder de influência, quebra de recordes de acessos simultâneos - é só o que as lives dos cantores sertanejos são. Nada mais. Onde estão as doações? Alguém sabe para onde e quando elas foram direcionadas? Os próprios cantores doaram quanto? Nada mais que massagem ao próprio ego e pão mofado em um circo virulento são essas lives...

Opressão sonora

Existe um tipo de canso que irrita e oprime, provocando, em alguns casos, evidente mal-estar físico - o sonoro. Nas casas ao longo dessa rua de barro, que já viu o germe do saneamento básico mas nunca o asfalto, hits rotineiramente repetidos compõem a trilha sonora eclética e de péssimo gosto. Do sertanejo à fossa, todos tem um lugar especial no coração dos pobres periféricos que habitam as bandas do Rosa Maria.  E o pior nem é, necessariamente, ouvirem a mesma playlist todos os dias, o dia todo. É obrigarem os demais a ouvir também, como se todos gostassem de brega funk ou da enjoativa Marília Mendonça. Há nessas pessoas uma falta de discernimento sem ímpar sobre convivência social e dignidade pessoal. E se as letras das músicas revelam algo sobre o próprio ser então essas pessoas são adúlteras ou propensas ao melodrama. Talvez por isso os botecos sujos com mesas engorduradas e garçons grosseiros estejam sempre cheios e prontos a explodir entre risos, choros e ameaças velad...

Hits

Na casa de frente o som saía por entre as frestas inundando a rua com um funk delicioso em que a boceta de uma mulher ideal sobe e desce em um mastro negro periférico.   Na casa ao lado um sertanejo avisa que está abraçando uma garrafa e que não quer parar de fazer isso.  Na casa entre essas duas uma macia e deliciosa boca sobe e desce entre as pernas de um pardo, fazendo com que gemidos guturais sejam expelidos por um safado a mais no mundo. Sentindo o gosto do sexo, sugando o sexo, sendo o próprio sexo, ela deixa o calor opressivo de lado e banha-se em porra e suor. As casas vizinhas atiçam os transeuntes com mensagens diretas ou subliminares de sexo e poder enquanto que ela vive o sexo e o poder ao som das fantasias daqueles que esperam um dia saber o real significado de hits tão deliciosos.

Padres Catra

A modinha religiosa dos últimos tempos sofreu um revés que se parece muito com a contra-reforma católica – os padres saíram com fervor para arrebanhar as ovelhas (não carneiros, só ovelhas), tomando o espaço dos cantores gospéis  e ridicularizando a vanguarda católica do show business. Quem assiste a programação da TV aberta não consegue mais, e isso já tem um tempo, ficar cinco minutos sem ouvir a gritaria lamuriosa de um padre ou outro. E tal qual a classe protestante, apareceram padres cantores da mpb, do sertanejo e, se deixarmos, logo logo o Funk católico aparece por aí também para completar a quebra e mais um selo apocalíptico. E não entenda que há preconceito em um padre vestir uma calça tão apertada que dá para notar cada ruga peniana ou que um padre não possa pregar no além-igreja. Muito pelo contrário. Na vanguarda do movimento católico tínhamos músicas que frequentavam os corais das igrejas e que despertavam bons sentimentos em crianças, adolescentes e adultos sem ...