Janela vívida

Arte: Street in Meknes. Eugène Delacroix. 1832. MET. Da minha janela, no nível do primeiro pavimento, componente elementar da calçada, eu vejo o mundo que se desenrola à margem da sociedade e que me criminaliza e vitimiza utilizando as vítimas que estão encarceradas em outras janelas gradeadas. Por ela eu vejo aquele que estaciona o carro na calçada com preguiça de alocar o bem na garagem; vejo o casal que se diz enamorada e o rapaz que paquera os transeuntes. Da minha janela fechada eu ouço o homem que pede a carteira alheia, mas que não é assaltante (embora pareça). Ouço o carro do lixo. Ouço conversas entrecortadas que denotam uma vida limitada aos recursos que se pode obter, nem sempre de maneira honesta. Pela minha janela a vida escorre de dentro para fora e de fora para dentro como se o mundo físico fosse o último bastião entre a prisão e a liberdade pregada nas igrejas à direita e à esquerda desse buraco gradeado. Da minha janela eu vejo lua, viajo, ouço,...