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Eu estou, nunca sou

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São quilômetros percorridos com adversa vontade para confirmar as verdades proferidas por Kant sobre a disciplina. Metros que nos separam e nunca nos une. União e amor, seria possível a existência simultânea dessas utopias? O que me resta não é a crença utópica em delírios sobre amor e união, como o marketing voraz tenta me vender, mas a fé em mim e no que posso fazer com o reconhecidamente pouco que tenho. E não me tenho, não te tenho, não nos tenho. Sobra-me bons momentos, recepções ímpares, estar sem nunca alcançar o ser. Abaixo de mim tocam-me músicas. Acima de mim não há nada. Eu estou a cerveja, o delírio, a chegada, a partida, o estar. Eu estou. E isso é tudo.

Dias ruins e dias de chuva

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Há dias ruins e há dias de chuva. Nos dias ruins tudo acontece - a impressora quebra, o colega de trabalho adoece, a comida azeda, os funcionários do transporte coletivo entram em greve, a dona da empresa procura o que não deve e você cansa antes do meio-dia, pensando na vida de merda que o populacho tem. Nos dias de chuva desliga-se o ar-condicionado, come churrasco ao sabor da cerveja, assiste um filminho, paquera velhos amores enquanto encanta novas paixões e perturbação alguma tira o seu sossego. Acontece que dias de chuva e dias ruins podem coincidir, cruelmente, como se fosse uma brincadeira dos Deuses.  Então você para, chama um motorista pelo aplicativo e vai embora com a fé de nunca mais voltar. Ocorre de uma cerveja estar esperando junto com o carro e o motorista, alugados a preço popularmente inflacionado, como uma surpresa boa.  Você só precisa ir embora, ouvindo a história alheia, como quem lê a seção de crônicas burlescas de um tabloide qualquer. A vi...

O terrível

Quando o dia vai esfriando e enegrecendo vão aparecendo os fantasmas de uma vida estranhamente ocupada demais - vazia demais, infeliz demais, solitária demais.  E vai caindo, o dia. A luz dando lugar a sombras. Os amantes refugiando-se em pequenos ângulos. Portas fechando-se. Televisores sendo ligados. Cuscuzeiros esquentando em fogões, quase todos. E a vida sendo desocupada, revelando a crueldade e a inexorável verdade. Há quem jante em restaurante, falando de trabalho, com colegas de trabalho, como se pudesse estender o dia e as horas de estresse para espantar o terrível. Há quem compre cerveja e convoque os colegas para "divertirem--se", em conversas estéreis, até a cerveja acabar. Há quem nem em casa chega, nunca. Daí a pouco o dia nasce. Os cuscuzeiros voltam aos fogões e olhos cansados não de veem nos espelhos mofados de banheiros tantos. Nascendo, com uma luz forte, o dia esconde os escombros do terrível, do vazio.