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Nego Ciço

Às quatro horas, seja de uma manhã fria ou suarenta, Nego Ciço já está de pé, com suas ferramentas, olhando para os olhos grandes e expressivos do boi. Sem dó nem piedade, estados de coração que há muito perdera e que jamais reencontrará, ele lança-se sobre o animal, tira-lhe a coragem e imbue-se com ela; baixa o braço magro e poderoso sobre a cabeça bovina, arrancando-lhe a vida. Olhando assim, como um mero observador enojado pela vida que pulsa nas veias de Nego Ciço e que deixa o corpo animalesco, poderia dizer que o homem é feroz sem necessidade, devorador implacável, no sentido mais cruel das palavras. E pensar isso, assim como vomitar em meio ao sangue e às vísceras de mais um boi, é a mais absurda das hipocrisias sociais. Lá, onde o sangue muda a tonalidade das sandálias havaianas (muitas com um prego), Nego Ciço não entende a besteira de não poder ser chamado de 'nego'. Entende apenas que lhe pertence alguns reais, ainda na forma bruta de músculos, pontas, tripas e...