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O outono de Áries

 O outono começou lavando a rua, os telhados, os pés cansados de tantos andarilhos-em-circulo. A água revelou goteiras nunca antes vistas, a necessidade de mais roupas de cama e preocupações diferentes.  O outono anda escondendo Áries, sentida por todos, tendo eles conhecimento disso ou não. Mais cedo, ali na praça, uma colisão entre dois veículos foi a atração rueira. Um pouco antes e em direções opostas, duas outras colisões chamaram a atenção dos transeuntes.  Um pisciano reclama da má sorte, um escorpiano anda arisco, um ariano anda...bem, como sempre anda um ariano. Agora ouço a chuva e não sei se pagaram um boleto necessário e dúvidas persistem sobre outras ordens de pagamentos. Um dia de cada vez, é o que nos pedem.  Pode ser que nesse outono tenhamos frutas mais baratas e amores mais populares - é essa a esperança do pós-pandemia. O que se pode saber, com precisão, é que Belchior, nessas madrugadas pensantes e tão chuvosas, é ainda mais fundamental.

Sem avisos

Um dia eu vou sumir, não aos poucos como uma fruta que se parte em pedaços e é engolida sem pretensão. Será de uma vez. Súbito. Não, não é estado de tristeza ou depressão que inflama essa afirmação. É um doce sabor de quem há de experimentar um arrebatamento cataclismico. De repente, não mais que de repente (como uma vez escreveu o poeta) eu sumirei em meio à multidão, sem ser notado, sem ser perturbado, sem alarde. E ficará, se alguém algum dia lembrar, como escreveu outro poeta, versos A um ausente. É só o que restará de mim pelas mãos de outro que me antecedeu. Um dia, eu sei, eu vou sumir.  E como não se destroi um império em um único dia, assim eu vou me fragmentando, acostumando os outros com pequenas ausências, silêncios enormes. E onde eu vou parar  ninguém sabe, nem eu, nem você, Olorum, de certeza, mas ele não vai contar. E vou viajar, como o Belchior fez duas vezes.

A canção mais linda

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Uma das canções mais lindas que já ouvi é surpreendentemente atemporal. Do repertório do cantor e compositor Oswaldo Montenegro, A vida quis assim é simplesmente bela, emocionante e rica – um exemplo da beleza da poesia brasileira e da sonoridade das palavras. Com um arranjo à altura da poesia, através da voz ímpar de Montenegro, essa canção é capaz de arrebatar qualquer um que esteja sensível ao belo e ao sublime. A primeira vez que a ouvi foi por obra do acaso quando elaborava uma apresentação para uma aula na pós-graduação. Em meio aos princípios pedagógicos que seriam ensinados, e pensando seriamente sobre eles e sua aplicabilidade em sala de aula, acabei esbarrando em A vida quis assim no youtube e foi encanto à primeira vista. Já a reproduzi dezenas de vezes e continuo ouvindo sem cansaço porque ela é simplesmente inspiradora. Há quem não goste de alguns ramos da Música Popular Brasileira – e prefira exclusivamente, quase sempre, o funk (que eu também gosto) ou alguns hits d...