Um corpo sujo de batom

Foto: Esquina de Palmeira dos Índios - AL. Rafael Rodrigo Marajá. O batom não queria ficar no lugar. O dia já havia raiado há uma hora e ela ainda não sabia se deveria ir ou ficar sentada, sob o sol da manhã, esperando que ele viesse buscá-la. Ontem ele não vira. Viria hoje quando outras amantes tantas já haviam passado por sua cama, seus braços, sua vida? Não podia confiar. Decidiu-se rever seu cabelo no espelho do banheiro. Estava bom para o que tinha de fazer. Não iria conquistar a Grécia, e para isso qualquer coisa estava boa. Voltou. Sentou-se. Olhou o relógio. Meia hora de atraso e sua paciência já refizera os pensamentos da noite passada sem a bruma do fatalismo. Ela ia cair de cabeça ponte abaixo e nem olharia para trás se ele, mais uma vez, não viesse busca-la. Achava inaceitável ir trabalhar sem a carona dele. E essa seria a última vez que teria que pegar um ônibus lotado, com o calor escaldante de galinha caipira em panela de bronze e o suor dos velhos...