Na altura de Paiaiá

Nesse pedaço de chão, observando passivamente as casinhas perdidas e os caminhos de terra, sinto-me um retirante em busca da fé, como aconteceu não muito longe daqui e que hoje é só água.
A noite começa a cair e o mundo tem aquele tom colorido que não sabemos descrever e que, por falta de expressão melhor, chamamos de melancólico. Dependendo de quem olha, o pasto se cobrindo de noite que vejo pode ser uma seara mística e ritualística como também pode ser lacrimoso cenário.
A vida não é fácil - para mim que não tenho paradeiro; para esse povo que só conhece o sol e as duras mãos do poder; para você que vive tão longe de si.
Para onde vou ninguém me espera. Por isso a pressa não está em minha bagagem e por mais que eu me atormente com a minha histórica pobreza material, há uma dormência onde nada tem importância e eu, sendo também o próprio nada, entendo a minha importância em cada instante e em cada lugar.
Linhas de transmissão de energia elétrica alimentam seus fios e botões e servem, neste momento, de cenário para mim. Elas vêm da cidade santa alagada e nos une sem querer. Elas são a expressão dessa nossa vida que nos une por meio de elementos aleatórios, mesmo que resistamos à felicidade do encontro.
Na altura de Paiaiá estou caminhando, sempre nunca só.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião de faces

Maníaco do Parque: entre o personagem e o homem

Nada além do que virá