A estrutura social

Quando entramos em contato com os trabalhadores do nível operacional, e cotidianamente precisamos fazer isso, deparamo-nos com robôs humanos que recebem um parco pagamento para manter a engrenagem do ecossistema ao qual pertence funcionando. E problemas estruturais de uma sociedade pobre e doente são perceptíveis: meios de transporte precário, alimentação regradíssima (ao cúmulo de quase faltar), nível de formação acadêmica duvidoso e criação e manutenção de castas entre esses mesmos trabalhadores.

O resultado é óbvio: clientes insatisfeitos, serviços inconclusos ou terminados aos tropeços, visão de faturamento e nenhuma visão de capital social, além de uma gestão temerária. 

Não pense, no entanto, que isso é novo. Não é. 

Nesta colônia que fingimos ser um país independente, o Brasil, temos uma massa de escravizados que se mantém na senzala moderna, com energia e internet apenas. Uma infeliz e triste realidade que não se pode, ainda, ser ultrapassada devido à crença de que o conhecimento refinado é desnecessário para a profissão, para o cargo, para o mundo corporativo. 

Não se pode deixar de perceber a semelhança com a ancestralidade recente, importada forçosamente e que só pela graça de todos os Orixás não sucumbiu aos desmandos e à crueldade que ainda hoje, por meio do wi-fi, perpetuamos. 

Carl Sagan, em O Mundo Assombrado pelos Demônios (1995), escreveu

"Havia uma regra muito reveladora: os escravos deviam continuar analfabetos. No Sul antes da Guerra Civil, os brancos que ensinassem um escravo a ler eram severamente punidos. "[Para] criar um escravo satisfeito", escreveu Bailey mais tarde, "é necessário criá-lo estúpido. É necessário obscurecer a sua visão moral e intelectual, e, na medida do possível, aniquilar o poder da razão." É por isso que os senhores devem controlar o que os escravos ouvem, veem e pensam. É por isso que a leitura e o pensamento crítico são perigosos, na verdade subversivos, numa sociedade injusta."

Portanto, se a estrutura que mantém os pobres na linha da morte miserável continua atuante por que, então, você não busca o conhecimento, na sua medida, no seu tempo e de acordo com os seus interesses?


 


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