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Mostrando postagens de novembro, 2021

Em estado solo

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Quadro: Retrato de Mulher, possivelmente Ginevra d'Antonio Lupari Gozzadini, Atribuído ao Maestro delle Storie del Pane. Metmuseum.   Noites de delícias e sossegos. Dias de trabalho e sons diversos. E entre o passar das horas e a imposição de limites para o fim de atividades, o fim de auto pressões sociais, o fim de velhos hábitos, existem  descobertas que nos provocam e tornam-nos interessantes - e é sempre melhor que seja para si do que para outrem.  Porque quando ficarmos sozinhos - presos em nossos mundos físicos, com tantas limitações quantas forem possíveis existirem em ambientes trancados, sem o verdor natural do mundo, com odores vendidos em farmácias e comida competentemente pré-cozida por multinacionais que nem sempre são boas para nossos corpos frágeis e viciados - precisaremos ter com o que nos divertir e distrair. As noites deliciosas podem ser com única companhia e as de sossego, idem.  Os dias de trabalho podem ser mudados e reformados. No entanto, o l...

É a primavera chegando ao fim

Vídeo: Rafael Rodrigo Marajá Da janela podemos ver um mundo rotineiro, cronometrado, dividido entre achismos e vizinhos. E em uma realidade pandêmica, atribulada, ocupada, preocupada, nossa janela, por muitas horas do dia, são de apenas algumas polegadas.  De repente, sons celestes, tímidos, são ouvidos e a tensão aumenta. Para os fiéis, são os primeiros sinais que o Rei está passando.  A chuva cai. As janelas são fechadas. O povo corre. E então o verão mostra sua face durante a primavera. É o fim para ela. É o renascimento para ele.  É o espetáculo belo, gratuito, aleatório, perigoso e dominador.  Os filhos da tempestade não temem e os Orixás mostram, embora não precisem, a vida que flui, muda, transforma e é transformada.  Vídeo: Rafael Rodrigo Marajá

Entre respostas e mutações

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Escultura: Um hipócrita e um caluniador. Franz Xaver Messerschmidt. Metmuseum. Em meios aos afazeres do cotidiano e do completo abandono das redes sociais deparei-me com uma notificação da BBC News Mundo sobre a nova variante do SARS-CoV-2 detectada no sul da África. Parei um minuto e fui ler a matéria, como todas as outras, muito boa.   E qual não é a minha surpresa ao chegar ao fim da notícia e deparar-me com a seguinte afirmação  " La lección de la pandemia es que no siempre se puede esperar hasta tener todas las respuestas ( BBC News Mundo , 2021, online)." E fiquei a cismar com essa afirmação a tarde toda não porque seja complexa ou extraordinariamente impactante, mas porque revela o quanto somos dependentes de respostas e, nessa sociedade cada vez mais doente pelo imediatismo provocado e fomentado por ambientes virtuais e sociais, acabamos por levar ao precipício a nossa saúde mental sempre que esse imediatismo e essas respostas não satisfazem nosso sadomasoquismo....

Aceitação algoritmizada

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Escultura: Cravo. Michele Todini, Basilio Onofri, Jacob Reiff. Metmuseum.   Querer a aceitação do outro sempre foi um problema - para todos. Para conseguirmos essa aceitação, transitória e iludida, submetemo-nos aos mais degradantes estados sociais que podemos atingir. Com as redes sociais em alta e a pandemia chicoteando-nos por todos os lados, passamos a admitir o ridículo como pré-requisito para sermos legais, engajados e respeitados. Dançar com baldes na cabeça ou segurar em um fio energizado com os pés dentro de uma bacia cheia de água passou a ser o mínimo para conseguir uma aprovação de poucos segundos. E por quê? A nossa solidão, os nossos vazios e os nossos dilemas íntimos explicam isso. Não seguir uma pessoa é não gostar dela. Não estar presente em lives é ficar pelo caminho. Não ter engajamento é simplesmente desaparecer em um mar de desconhecidos.  E a morte social ganhou outros patamares.  Ter um perfil privado e ter, simultaneamente, poucos seguidores signif...

Colecionáveis inúteis

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Quadro: A Month's Darning. Enoch Wood Perry. Metmuseum.   Passamos a vida colecionando inutilidades. Diplomas, livros, paixões, títulos, bajulações, mágoas, alegrias, lugares e pessoas. Há quem colecione resíduos inservíveis. Colecionamos tudo o que nos é possível.  Só nos escapa o autoconhecimento da inutilidade dos objetos, materiais e abstratos, que juntamos com tanto esforço e sacrifício. E quando paramos para observar bem, o motivo das coleções são as faltas - de amor, de segurança, de propósito. Colecionamos em inutilidades a nossa falta de coragem de assumir nossas fragilidades e incoerências, como se tudo o que nos cabe na vida é preencher vazios - que nem sempre são criados por nossas ações. E então, um dia tranquilo qualquer, tiram-nos nossa coleção e deixam-nos órfãos de tudo aquilo que ocupava um espaço ocioso e que nos impedia de vivermos em plenitude. Órfãos de quinquilharia. Órfãos de inutilidades. Órfãos, simplesmente. Então começamos de novo. E o que colocar n...

Error

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Quadro: Sibylle. Camille Corot. Metmuseum.   Com frequência somos instados a sermos assertivos sempre, como se soubéssemos das respostas certas para todas as perguntas imagináveis e inimagináveis que possam nos fazer. A ideia que jamais poderemos errar é colocada em nosso íntimo e o medo da falha nos aterroriza, paralisa, imobiliza qualquer criatividade.  E em todos os planos que elaboramos o erro não tem lugar. Errar significa o fim do jogo; o fracasso que não poderemos suportar. Essa ideia resiste ao tempo e as mais diversas dificuldades. Errar e admitir o erro envolve, falsamente, a ideia de fracasso - e não fomos educados para compreender os motivos que nos levaram ao erro. Ao contrário, fomos educados para a competição nua, crua e cruel. Nada além disso. E isso contribui para tantos desenganos e suicídios.  Como não errar? Por que o erro existe? Como superar o erro? Em tempos tão padronizados, onde o que existe são figurações para redes sociais, o que nos sobra são m...

Sol em Sagitário

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Foto: Constelação de Sagitário. NASA.  No ambiente ecoa Queen, na versão da Royal Philharmonic Orchestra. A rua parece estar em calma, numa versão pavorosa de velório que só ocorre em certos dias de certos meses em certos momentos do ano.  E o instante é de parada de manutenção obrigatória para a minha mente, o meu corpo; tudo em nome da boa e vindoura produtividade.  O dia, no entanto, foi de sonhos - tão reais e vívidos que não sei em que parte é que eu voltei à vigília. A questão não é a realidade vívida do sonho e sim quem estava lá. A aventura de reviver antigos e sempre presentes laços torna tudo mais divertido e aventureiro. Uma pena mesmo é que os sonhos, por vezes, demorem tanto para se concretizarem. No ar parece existir um clima diferente. Um estado de mudança iminente que se faz valer da repentina calmaria e da inexistência de problema para provocar o novo. Parece ser o instante último antes da tempestade aparecer e bagunçar tudo, nem sempre para a pior. ...

Diário de um abandonado III

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Escultura: Imperador Trebonianus Gallus. Metmuseum.  Gratuitamente somos abandonados - de repente deixamos de ser interessante ou muito aquém das expectativas de outrem.  E, por vezes, pensamos que o problema existe em nossas ações e discursos cretinamente aprendidos reforçam essas ideias. ainda que não tenhamos consciência imediata disso.  O pior não é quando somos abandonados - isso é de se esperar do egoísmo inato. O pior mesmo é quando nos abandonamos e deixamos que outrem tenha o poder de perpetuar esse abandono. E embora  nem sempre temos a consciência dos atos que provocam os sentimentos baixos que nos levam ao abismo do auto abandono, temos que tomar as rédeas da nossa vida, do nosso querer, do nosso destino  e fazer do eu interior a força capaz de rejeitar o egoísmo e as ações de outrem. O abandono é abandono. O abandono dos outros é pueril - sempre retornam. O auto abandono é que deve ser tratado - é o único que tem cura e que pode fazer estragos inima...

Regra tóxica

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Arte: Cremorne Gardens, No. 2. James McNeill Whistler. Metmuseum. Vivemos, quase como uma regra básica da vida, relações tóxicas e destrutivas - em casa, na religião, no trabalho, na escola/universidade. E parece ser o objetivo dessas naturais relações danosas é testar nossa capacidade de livrarmo-nos não apenas das pessoas viciadas nesse tipo de domínio e ambiente como também provocar-nos à mudança. O problema é que de tanto convivermos em laços tóxicos, e ambientes não menos diferentes,  acabamos acreditando em falácias que nos enredam em ficções da vida real, ancorando nosso potencial em lamaçais.  Um dia precisamos acordar, seja por meio de um baque quase insuportável, seja por não aceitar a liberdade podada e diluída que nos oferecem. Infelizmente a maioria de nós já possui desculpas para não mudar o status quo dessas relações tóxicas - falta de dinheiro, "amor", "afetividade inata", obrigações. Não percebem que o tempo passa e o desperdício desse bem é irrem...

Diário de um abanadonado II

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Arte: Vale da montanha com planalto. Hercules Segers. Metmuseum.    Sim, a hora chega! A fatídica hora em que o fastio das coisas cotidianas nos toma de assalto, jogando-nos em um estado depressivo; um estado de tristeza; um estado em que nada é capaz de satisfazer a necessidade de vida  que, recorrentemente, temos. Nesse momento a luxúria, a gula, a ira e as mais diminutas observações não nos demove da letargia impeditiva de viver. Ou somos experts ou completamente inaptos nesses doces pecados católicos, o que resta é somente uma ausência pura e simples. É nesse assalto que compreendemos os bêbados, os drogados nunca satisfeitos, os suicidas, os antissociais, os doentes mentais. É um assalto que não deixa restos e nem vítimas e nunca termina.  O hoje está sendo assim. O ontem foi assim. O amanhã foi roubado.  

Nota de um meio-dia pandêmico

Nossas percepções estão alteradas com esse isolamento. Os solitários ficaram ainda mais solitários; os amantes perceberam que o sexo não é satisfatório e o amor inexistente; os aplicativos de relacionamento sobressaíram à imbecilidade inútil de redes sociais egocêntricas.  Os relacionamentos fracassados mostraram-nos  o vazio existencial e crises etárias explodiram com o nosso frágil emocional, que nenhuma religião engessada é capaz de sanar.  Os objetivos e as metas de lucro caíram por terra. E a cultura, essa audaz e feroz dama, foi a única que nos estendeu a mão diante da insignificância das nossas corridas diárias.  Talvez seja por isso que minha vizinha, depois de uma festa de aniversário que terminou no fim da madrugada, levantou tão cedo para ouvir os melhores sucessos de uma recente extinta. O medo da morte, a consciência da brevidade de uma passagem incerta por essa encarnação, torna-nos patéticos, medrosos, temerários.  E dentre tudo o que pode ser dit...

Diário de um abandonado I

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Foto: Sofá. John Henry Belter. Metmuseum.   Eu não sei por onde começar. E talvez seja muita pretensão escrever sobre o meu abandono em um mundo de abandonados e invisíveis. Mas se cada um tem sua dor e sua alegria, em uma eterna roda dentada que nos deixa moídos e fragilizados sempre que somos obrigados a impulsioná-la, temos, então, histórias e olhares diferentes e comoventes, embora o cenário pareça sempre o mesmo.  E, antes de tudo, você precisa saber que nem um psicólogo dos serviços públicos eu consegui encontrar para chorar e desabafar, deixando-o perplexo, incomodado e esquecido no "até a próxima" que jamais aconteceria.  Neste momento eu estou sentado em uma mesa doada, ouvindo Vapor Barato, na interpretação de Gal Costa e Zeca Baleiro - e essa música aleatória descreve muito bem o meu estado de espírito.  Eu estou cansado. Exausto. Deprimido. Falido. Desiludido.  Não sei onde eu comecei a errar tanto e sei também que o problema não está exclusivamente ...

Entre sujeiras e miolos XIX

 Jura Secreta. Você se Lembra. Caravana. As músicas se revezam na playlist aleatória. Eu tento resolver problemas de conciliação bancária da NEO Benefícios. Lá fora, outras músicas, outras vidas,, outros sofrimentos, outras alegrias em stand by.  O vento me revela tudo, até os desejos que ficam pelo caminho.  E tudo o que penso são ansiedades (descobertas recentemente) por uma vida que me absorve, mastiga, rumina e cospe de volta.  E o que eu quero? O que eu gosto de fazer?  Passou da hora de fazer a minha própria felicidade, da forma mais egoísta que posso encontrar - limitada a mim mesmo.  Porque, olhando bem, reconhecendo o que gosto, quero e preciso vivenciar, o medo de não ser quem preciso ser é tão pequeno que chega a ser vergonhoso negar-me a mim mesmo esse direito.  Always Remember Us This Way. Miragens. Hallelujah. 

Entre sujeiras e miolos VIII

O vento entra com toda a força e o sol castiga os transeuntes lá fora. Aqui dentro, da casa, de mim, dos meus miolos, há o embalo de Pessoal Particular. Lembranças de priscas eras pululam em minha mente, em meu sangue, em minha retinas. E o calor já não é mais o desse lugar, o cheiro não é mais da vegetação que seca no quintal alheio. Eu não sou eu.  E há alegrias, pequenas, sedimentadas, que ancoram minha existência volátil nesse momento.  Ah, a delícia de ter vivido coisas simples; de ter gostado de pessoas difíceis e de ter sido difícil.  Não, isso não é coisa de quem está prestes ao suicídio e também não são reminiscências de um senil que não sabe mais se situar no tempo e no espaço. Talvez seja os dois ou algo com nome difícil que os cultos e psicólogos saibam. Eu não sei. Não estou interessado em nada.  Estou mais para Gisberta ou o velho Francisco, oscilando sempre entre esses dois personagens, que vejo na Rua da Frente, encostados na Ponte do Imperador. ...

Crônica de uma vida insuficiente XXVII

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Obra: A Meditação da Paixão. Vittore Carpaccio. Metmuseum.   Quantas e quantas vezes sofremos por não ter aquilo que queremos?  Sem saber que o objeto desse sofrimento não nos fará mais felizes, apenas mais um na imensa multidão que transita para lá e para cá na roda opressora de vidas sugadas até a última gota por trabalhos diminutos e chefes desprezíveis; sugadas por relacionamentos infelizes; sugadas por desejos desnecessários.  Quando conseguimos o que queremos notamos que não sabíamos o que queríamos e que o sofrimento por não ter tido ou ter demorado a conseguir era não só desnecessário como torturador em sua ideia mais fundamental. Nossa vida é insuficiente para suprir as necessidades de pessoas egoístas e de empresas ávidas pelo crédito que bancos nos concede tão ternamente.  Nossa vida é insuficiente para alcançar a fama e a fortuna de pessoas famosas e influentes - e temos a necessidade dessa cobiça? Nossa vida precisa ser suficiente para nós e para as noss...

Carta a um ausente IV

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Obra: The Iconography. Anthony van Dyck. Metmuseum.   Não é mais uma questão de não saber. Você sabe. Eu te falei. Mandei e-mail. Chamei a atenção na rede social menos sociável que existe. E nada. Nada. Para bom entendedor, basta.  Mas eu queria te dizer, que depois de tudo e de todos os anos, eu posso falar que você é o amor da minha vida.  E isso implica em uma miríade de sentimentos. E mesmo que você não queira saber, sempre será a minha a minha Miragem.   

Entre sujeiras e miolos VII

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Obra: Um ourives em sua loja. Petrus Christus. Metmuseum Quando foi que eu me perdi? Onde foi que eu me deixei? Perguntas que só eu posso responder e que eu não posso porque não sei por onde começar. Meus miolos falham - sempre falham quando precisamos.  Esses mesmos miolos que são a minha salvação são também a minha desgraça. É a desgraça da mulher da casa da frente que não sabe mais viver com a autoestima saudável e com a certeza da plenitude de uma vida pobre. É a desgraça da dona do açaí que não vê a violência do próprio relacionamento - abusivo sob a a maquiagem do ciúme. É a desgraça de quem precisa imprimir sofrimento ao outro para crer-se feliz. Meus miolos, os seus miolos, são a sujeira que não conseguimos limpar, por mais que eu, ou você, tente limpar com poderosos alvejantes.  A vida é parte da pergunta e da resposta e tê-las em completude significa findar , em definitivo, a caminhada nesse vale de lágrimas, sombras, curtidas e criticas. 

Entre sujeiras e miolos VI

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Foto: Suit. 1760. Metmuseum.   Algumas pessoas ficam horrorizadas quando menciono que não carrego nenhum documento pessoal de identificação sempre que saio de casa, independente do meu destino (a menos que eu saiba que vou realmente precisar). E isso porque se eu cair morto no chão devo ser enterrado como indigente, no mesmo esquecimento no qual vivo a minha vida. Qual a diferença de ser identificado quando eu morrer? Não desejo flores depois de morto e, de qualquer forma, não haverá ninguém para levá-las.  Em vida, ainda receberia flores e gracejos. E mesmo sabendo que não foi para mim que Carlos escreveu A um ausente, considero, em minha fantasia, para mim e para  os meus pet's, que já me esperam no além túmulo.  Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? - C.D.A.

Entre sujeiras e miolos V

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Arte: Édouard Manet, sentado, segurando o chapéu. Degas. Metmuseum.  Disseram que se eu continuar assim vou acabar depressivo - isso se eu já não estiver. Dois centímetros de lixo no chão Crostas de sujeiras em todas as superfícies. Comida apodrecendo na bancada americana, na pia, no chão, no lixo.  Eu sei que para mim é o fim da linha. É o mesmo fim que eu previra para o pós-universidade.  O que existe é o pós-decepções; o pós-pré-pandemia; o pós-verdade.  Nada mais vale a pena. E não há nada pelo que ser dito. Não há nada. 

Entre sujeiras e miolos IV

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Eu  vinha caminhando pela João Bebe Água, sentindo o leve frescor da noite - depois de um dia escaldante - e pensando na imbecilidade de uma vida presa ao circulo vicioso de trabalhar apenas para pagar contas e tentar sair bem em fotos, quando fui, como sempre, tomado de assalto pelo vazio desse estilo de vida.  E vinha ruminando os fracassos da vida e os acertados nãos , incompreensíveis pela multidão, quando me deparo com um homem pedalando tranquilamente em uma bicicleta tandem.  Em uma bicicleta tandem. A primeira cena que me veio à memória foi quando a Marge (The Simpsons, ep. 361) tentou andar em uma e fracassou em todas as vezes porque não tinha com quem dividir o veículo. Cenas tristes - deprimentes até.  Não era um homem amarelo e ele até que se saiu bem, seguindo seu caminho solitário.  Até quando? A vida é dura não por ser trabalhosa. É dura e embrutecida por processos que envolvem pessoas e suas mesquinharias.  Eu, não muito diferente do homem, ...

Entre sujeiras e miolos III

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Foto: Cobertura Frontal. Metmuseum.   Há alguns anos, enquanto eu tinha algo mais interessante para fazer e com quem fazer, L.F. maratonava Two and a half Men. Particularmente eu achava um tanto exageradas as gargalhadas e sua imagem assistindo e se acabando em risos enquanto eu (cara  de riso e safado enquanto relembro)...bem, não importa. Agora eu estou maratonando a mesma série e nem sempre achando graça. Na verdade, Rose e a Evelyn Harper é o que torna as ironias e as situações engraçadas; e elas tornam tudo divertido. Não sei se L.F. concorda, muitos anos depois e com inúmeras responsabilidades nas costas. Eu, por outro lado, apesar de ter tido a tendência a ter responsabilidades semelhantes, não estreguei a minha vida e a de outrem. A pandemia parece estar no fim e nesse purgatório ao azeite extra virgem fervente o que sobra nem são lembranças aleatórios e não provocadas, mas a prospecção de uma nova realidade - aos que sobreviverem ao vírus, à política e à crise ec...

Entre sujeiras e miolos II

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Foto: arquivo pessoal.  Outro dia, de certa forma chuvoso, fui à padaria na outra rua e, no meio do caminho, reencontrei um filhote felino de poucas semanas de vida. A visão do pobre animal e a minha necessidade de um bichano para amedrontar um catito que tem desesperadamente buscado comida aqui em casa desde que a minha vizinha se mudou.  Entre adotar outro gato e não o fazer, sendo mais um humano cruel e insensível, eu fico no meio termo - igual certos artistas que conhecemos diante da política e da miséria social que está reafirmando o brasileiro como rato de esgoto compulsório.  Acabou que ainda não adotei. Não se onde ele anda, provavelmente na mesma esquina sendo alimentado pela vizinha da esquina, no fim da rua.  Tirando o meu gato (que a minha ex adúltera, mentirosa e perigosamente tóxica usurpou e jogou ao deus-dará), ainda redirecionei mais dois filhotes felinos para a adoção. Um, aparentemente continua sendo bem cuidado - enquanto estava esperando o novo l...